A palavra aramaica "Abba" - que significa papai - expressa muito bem quem é o verdadeiro Deus dos cristãos: Aquele que quer se relacionar conosco como o nosso Papai, o Deus que é amor incondicional...





sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

A presença do Espírito Santo



Não poucas vezes ouvi alguém dizer que determinada igreja era demasiadamente “fria”. Ora, o que isto quer dizer? Basicamente, quer dizer que durante suas reuniões há poucas, ou nenhuma manifestação emocional e o auditório quase não dá retorno imediato ao que está sendo dito. Mas será que esta conclusão está realmente ligada à presença ou à ausência do Espírito Santo?
Em uma das vezes em que liguei a televisão num dia de domingo, ao final da manhã, estava sendo transmitido um destes programas de televisão evangélicos. Percebi que todo o programa girava em torno da expressão “avivamento”. E, como demonstração do que seria este avivamento, eram exibidas cenas de reuniões nas quais o apresentador pregava. As cenas eram de pessoas pulando, contorcendo-se e fazendo uma espécie de dança.
O mesmo apresentador, por diversas vezes, deixou clara a sua visão de que o “avivamento” era uma questão de sobrevivência da Igreja. Foi então que me pus a pensar: É evidente que um intelectualismo exacerbado e sem interação com o outro é nocivo em qualquer relacionamento. O próprio Senhor Jesus se emocionou, chorou e alegrou-se. Mas assim como negar as emoções é prejudicial, negar a palavra que fala à razão não constitui uma prova de fé.
“A Palavra de Deus ensina que a nossa razão é parte da imagem divina na qual Deus nos criou. Ele é o Deus racional que nos fez seres racionais e nos deu uma revelação racional. Negar nossa racionalidade é, portanto, negar nossa humanidade, vindo a ser menos do que seres humanos.”
John Stott
Parece-me que a vibração litúrgica de um auditório lotado não é a melhor forma de medirmos a presença do Espírito Santo em determinada comunidade. O mais relevante, pelo menos segundo a minha ótica, é a presença do Espírito em nossas vidas, que pode ser percebida pelo Seu fruto, que é o amor, a paz, a alegria, a bondade, a benignidade, a paciência, a mansidão, a fidelidade, o domínio próprio...
Manifestações de choro frenético, gritos e grandes emoções não me parecem traduzir a palavra avivamento. Este seria muito melhor demonstrado se procurássemos avivar as nossas vidas, pôr em prática o que Jesus ensinou claramente: viver o amor, praticar o bem, negar o egoísmo, viver em comunhão e, principalmente, não mais se preocupar em receber bênçãos sem medida, mas se ocupar em ser uma bênção para o mundo.
21/05/10. Denilson Basílio Costa

sábado, 18 de dezembro de 2010

As casas e as verdades



               Assim como uma casa se faz com tijolos, mas uma pilha de tijolos não é uma casa, também uma verdade cristã se faz com versículos – mas um amontoado de versículos não equivale necessariamente a uma verdade bíblica.

              Era uma manhã ensolarada e a caminhada já se estendia. A cidade estava logo ali. Antes da chegada, a fome. E depois da fome, uma figueira. Jesus se aproxima da planta esperando colher algum fruto. Mas encontrou apenas folhas. Não teve dó nem piedade – amaldiçoou a figueira, e deixou seus discípulos assombrados. Depois deu uma bronca em todo mundo e vaticinou: quem tiver fé, ainda que do tamanho de um grão de mostarda, vai mandar esse monte sair do lugar e ele vai obedecer. No meio dessa coisa toda, Jesus ainda encontra tempo para, literalmente, chutar o balde dos comerciantes do templo, que haviam transformado a casa do Pai em covil de ladrões

             O que uma cidade, uma figueira, um monte, um templo e a fé estão fazendo juntos nesta cena? Aliás, observe. Caso não tenha percebido, eles estão juntos. Não são episódios estanques, separados: o da figueira, o do templo e o aforismo sobre a fé. São peças de um quebra-cabeças que, montadas, deixam claro como o sol do meio-dia o que Jesus estava querendo dizer. Já, já, a gente chega lá. Mas quero contar outra história. Certa ocasião, Cristo se deparou com um homem dominado por espíritos malignos. “Legião”, disseram, ao responder qual era seu nome. Diante do Filho do Deus Altíssimo, os demônios pediram que Jesus os deixasse entrar nos porcos, perto de dois mil. Jesus consentiu. Em seguida, os porcos se lançaram ao lago de Genezaré e se afogaram. O pessoal da região ficou louco da vida com Jesus e pediu que ele fosse embora daquele lugar.

             Não tenho dúvidas de que você já ouviu e leu centenas de meditações baseadas nestes dois episódios da caminhada de Jesus com seus discípulos. Provavelmente, alguém já disse que seus problemas são como aquele monte citado pelo Mestre, e que podem ser superados pela fé. Não importam quais sejam seus embaraços, seus problemas, suas angústias e as razões do seu sofrimento; basta ter fé. Afinal, a fé remove montanhas, isto é, com fé a gente vence qualquer dificuldade.

             Também deve ter ouvido a respeito da autoridade de Jesus sobre os espíritos malignos, o que é absolutamente verdadeiro. E não é pouca autoridade, não. O Senhor deu conta de expulsar dois mil demônios de um homem de uma vez só. Eles fizeram fila e saíram um de cada vez. Então, imagine o que Cristo não é capaz de fazer com um demoniozinho tupiniquim! Principalmente, no palco de uma igreja evangélica. Com base na história do gadareno e sob a intercessão das mãos estendidas dos fiéis, os pastores se enchem de coragem e repetem sua fórmula infalível: “Sai desse corpo que não te pertence”.

            Será que estes episódios se prestam apenas a ensinar a respeito do poder da fé para vencer dificuldades na vida e acerca da autoridade de Jesus sobre o diabo e seus asseclas? Ou haveria algo mais nas entrelinhas das narrativas? Fico com a segunda alternativa: os Evangelhos – decerto, a Bíblia toda – contêm linguagem cifrada, códigos secretos que comunicam verdades profundas, perfeitamente percebidas pelos circunstantes, porém raramente alcançadas pelos leitores contemporâneos.

            Mas, e a figueira, a cidade, o templo? O que fazer com essas figuras? Vamos lá. Primeiro, o caso da figueira. Sabemos que essa árvore é um símbolo que identifica a nação de Israel. Assim também a cidade, o templo, e o monte. A cidade é Jerusalém, onde está o Templo de Salomão, no monte Sião. Jesus faz a limpa, cumprindo a profecia de Malaquias – “Logo virá ao seu templo o Senhor, a quem vós buscais” – e a de Zacarias: “E, naquele dia, não haverá mais mercadores na casa do Senhor dos exércitos”.

            Jesus deixa claro que Israel é uma figueira estéril, sem frutos, o que é demonstrado pela profanação do Templo e deturpação de sua religião. A nação é amaldiçoada; Sião deixará de ser o centro da revelação de Deus e Israel será preterida por um povo com quem Deus celebrará uma nova aliança – em Jesus, e não mais em Moisés: “É evidente que pela lei ninguém será justificado diante de Deus, porque o justo viverá da fé”.

            A fé que remove montanha não é a fé individual, aquela porção de fé de cada crente, mas coletiva, do povo da nova aliança: “Mas a Escritura encerrou tudo debaixo do pecado, para que a promessa pela fé em Jesus Cristo fosse dada aos crentes. Mas, antes que a fé viesse, estávamos guardados debaixo da lei, e encerrados para aquela fé que se havia de manifestar. De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados. Mas, depois que veio a fé, já não estamos debaixo de aio. Porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus. Sabei, pois, que os que são da fé são filhos de Abraão”.

            O monte removido pela fé não é a dificuldade particular de cada crente, mas Sião, o monte santo, que não se abala – ou melhor, não se abalava, até que Israel rejeitou o Messias, que conforme a Escritura, veio para os seus, mas não foi recebido por eles. Em Cristo, a Igreja – o povo da fé – recebe todos os títulos que pertenciam a Israel: “Geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido”. A fé remove o Monte Sião. Portanto, da próxima vez que alguém lhe disser que a fé remove montanhas, diga que já removeu. Sião não é mais o que era. A figueira secou. E nasceu a Igreja, povo de Deus, povo da fé.

            A mesma coisa acontece com a história do endemoninhado gadareno. Os espíritos imundos chamam a si mesmos de Legião, numa clara e explícita referência ao poderio militar romano. Assim como os opressores egípcios se afogaram no Mar Vermelho, quando com mão forte Yahweh libertou Israel pelas mãos de Moisés, também os opressores romanos estavam se afogando no Mar da Galiléia, sob as ordens daquele que ousou pronunciar “ouvistes o que foi dito por Moisés; eu, o Messias, porém, vos digo”.

             Da próxima vez que alguém lhe disser que Jesus é maior que os demônios, concorde. Mas acrescente – ele é também maior que Moisés. E maior que o Egito, a Babilônia, a Pérsia. É também maior que Roma. Maior que os espíritos malignos que agem nas entranhas do mundo, que jaz no maligno. E, porque maior que tudo e todos, é Senhor e libertador, aqui e agora, ali e além; Rei de um reino que não terá fim.

             Assim como uma casa se faz com tijolos, mas uma pilha de tijolos não é uma casa, também uma verdade cristã se faz com versículos – mas um amontoado de versículos não equivale necessariamente a uma verdade bíblica. Uma casa é resultado de um processo inteligente de ordenação harmoniosa de tijolos, todos agrupados conforme determinado projeto. Assim também, a verdade do Evangelho possui sua lógica. Fora dessa lógica intrínseca, versículos não passam de tijolos.

Ed René Kivitz

O Deus Criador e o deus criado

            


             Houve um tempo em que eu pensava estar perdendo a fé. Isto aconteceu porque comecei a me sentir, no mínimo, desconfortável com o tipo de mensagem vinda de alguns púlpitos de igrejas evangélicas, ou mesmo da TV ou rádio. Mensagens do tipo: "Vai dar tudo certo!"; "Se você der uma oferta de sacrifício, Deus abrirá a mão para te abençoar sete vezes mais"; "Você precisa ser rico"; "Vou liberar uma palavra de vitória para você". Como assim? A palavra de vitória estava "retida" e agora foi "liberada"? Entrei em crise. E entrei em crise porque todas aquelas idéias eram extraídas de versos da própria Bíblia Sagrada - ou pelo menos eu pensava que eram.

            Confesso que minha reflexão não é nada original. Graças a Deus já existe um exército de gente que percebeu que algo estava estranho demais em boa parte das igrejas por aí... Ricardo Gondim, Caio Fábio, Ariovaldo Ramos e, principalmente, Ed René Kivitz, são teólogos que já expõem sua insatisfação com a face neoevangélica da igreja, há muito. Resta-me unir a eles.

           É óbvio que não quero dizer que tudo o que se faz lá é desprezível e tem de ser jogado fora. Quem faz isso são as seitas. Mas prefiro compartilhar alguns pensamentos com aqueles que estão se sentindo peixes fora d'água em suas congregações.

           Estaria eu me tornando um cético? Creio que não. De fato, uma crença morreu para mim. Um deus morreu para mim. Um deus que dizia: "- Venha para mim e pare de sofrer!!!" Esse deus morreu. Morreu porque se mostrou um deus falso. Falso porque sua forma de agir foi criada na "subcultura da religiosidade evangélica" e não retirada das Escrituras.

           O deus criado fica de plantão para poupar os fiéis das tragédias, evita sofrimentos dos mais crentes, satisfaz os desejos dos mais íntimos e promete dar vitória aos cristãos nas disputas contra os "mundanos". Sem falar da super prosperidade e das "unções" dos mais variados tipos. Foi desse deus que Freud zombou. Um deus que é manipulado por nós. E que existe para nos satisfazer.

          Não faz sentido um relacionamento com um deus movido a promessas de bênçãos e retribuições. Tampouco é natural uma obediência cega a líderes religiosos abusadores, por medo de receber maldições como aquelas relatadas no Antigo Testamento. Deus não é um ídolo a serviço dos fiéis. Não importa se o método para atraí-lo é uma "oferta de sacrifício" ou uma galinha com farofa na encruzilhada. Estou farto de mandinga "gospel".

          Não é verdade que 2010 seria nota 10! E não é verdade que 2011 será nota 11. Isso é mentira! É infantil. Beira o ridículo. Não é verdade que uma oferta de R$ 900, feita em 2009, faz com que Deus libere todas as bênçãos que estavam retidas no céu para você, como tentam nos empurrar, goela abaixo, os "profetas" norte-americanos, profissionais da "arrecadação financeira", idolatrados por uma face da igreja brasileira.

         Todo fim de ano é a mesma coisa: "- Ano que vem, eu profetizo que você vai realizar todos os seus sonhos!".  " Receba, meu irmão, eu sou profeta de Deus na sua vida". Mentira! Mentira! Mentira!

         Precisamos nos livrar dessa confusão de sincretismo religioso. Chega de e-mail dizendo que "dentro de quatro minutos receberás uma boa notícia". E coisas do tipo: "Amanhã, o teu milagre vai chegar"

         Há milhares de pessoas no país que, apesar da sua fé em Cristo, passam dificuldades e sofrem dores terríveis diuturnamente. O fato de alguns versículos tirados da Bíblia e lidos por um líder religioso parecerem promessas de sucesso, sempre, não quer dizer que foi isso que a Bíblia quis dizer. Essas palavras de otimismo, "vai dar tudo certo", podem até trazer algum conforto, mas quando não dá tudo certo para aquele que entende ser fiel a Deus, geralmente ele se revolta e abandona a fé. Eis o perigo do engano e do auto-engano.

         Sejamos maduros e, não, massa de manobra. Não vai dar tudo certo o tempo todo. Não é isso que o Evangelho garante. Mas Jesus nos diz que quem ouve os seus ensinamentos e os pratica é como o homem sábio que construiu a sua casa na rocha, caiu a chuva, vieram as enchentes e o vento soprou com força contra ela. Porém, ela não caiu porque havia sido construída na rocha.

         Tempestades virão. São o ônus de estarmos vivos. Mas não estamos sós quando passamos por ela. É isso que nos garante o Deus Criador, totalmente antagônico ao deus criado...

sábado, 30 de outubro de 2010

O analfabeto e o sujeito que não gosta de ler



                Que vantagem tem o sujeito que não gosta de ler e, de fato, quase não lê, sobre o analfabeto? Ele está habilitado a ter acesso a informações infinitas, mas não o faz porque não quer, não gosta. Enquanto o analfabeto, em tese, não pode.
               
                O sujeito que não gosta de ler pode perder oportunidades incríveis por não praticar a leitura. Deixa de adquirir conhecimento e de enxergar o mundo com outros olhos. Deixa de desenvolver seu raciocínio e de abrir portas que poderiam fazer toda a diferença.

                Assim é também com aqueles que acreditam em Deus mas não o buscam. De que vale saber que existe um soberano, criador do céu e da Terra, e até admirar quem o segue, se você é incapaz de se ajoelhar diante dele? De que vale saber que Ele se comunica conosco através da sua Palavra e até respeitar a Bíblia Sagrada se você não a lê e não a compreende?

               Quem faz assim pode até dizer que crê em Deus, mas suas ações demonstram um ateísmo prático. Você acredita nele mas vive como se Ele não existisse, como se não fizesse diferença alguma. Aquele que crê em Cristo não só acredita que Ele existe, mas se submete a sua vontade. Que possamos entender que é necessário nos submetermos à vontade de Deus. E que consultemos a Bíblia e oremos constantemente para sabermos qual é essa vontade.

                Somente assim a fé em Deus e em Jesus Cristo fará sentido. Não basta dizer que sabe ler, é preciso praticar a leitura. Não basta dizer que crê em Deus, é preciso se submeter a Ele. Segui-lo e buscá-lo como ao ar que respiramos!

                Deus nos abençoe!

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Deus e a pessoa jurídica


              No mundo jurídico sempre há discussões envolvendo as pessoas jurídicas. Uma das questões envolve a possibilidade de ela poder cometer um crime. Pessoas jurídicas são pessoas criadas pela vontade dos homens. Segundo o dicionário Michaelis, são entidades abstratas. São uma ficção. A pessoa jurídica não existe, de fato. Mas nos é útil e indispensável em muitos casos.
            
              Nos dias mais terríveis, naqueles em que chegamos a achar que não há saída lógica e que somente uma intervenção sobrenatural de Deus poderia nos ajudar, muitos de nós encontramos o mistério da presença real de Deus em nossas vidas. É quando o difícil se torna impossível que passamos a entender que Ele não é um mero delírio.

              Muitos tratam a Deus como uma pessoa jurídica. Em muitos momentos, inconscientemente, eu também fiz assim. Talvez muitos pensemos que Ele é uma ficção, criada pelos homens para que tenham algum conforto espiritual. É como se Ele não existisse de fato, como se fosse uma fantasia que nos é útil em alguns momentos. Há quem diga, inclusive, que a fé é para os fracos.

              Mas somente em momentos extremos a maioria de nós consegue sentir que Deus é bem diferente das pessoas jurídicas. Ele existe antes da fundação do mundo, é eterno e é real, de verdade. Assim como as pessoas jurídicas, em geral, Ele também é formado pela união de algumas pessoas - Pai, Filho e Espírito Santo - mas, apesar disto, é um único Deus e nos conduz e sustenta a cada dia.

              Quem confia em seus próprios méritos e nas suas próprias virtudes é que vive no mundo da ilusão, numa dimensão surreal e fictícia. Quando as tragédias nos alcançam temos a oportunidade de enxergarmos que somos pó. Dependemos de Deus para existir, e não o contrário. Ele é o Criador e não criatura nossa. Deus é Espírito, mas não é abstrato, muito menos ficção. Quando vemos o que Ele é capaz de fazer, na prática, podemos fazer a mesma afirmação de Jó: "Antes eu Te conhecia de ouvir falar, mas agora os meus olhos Te vêem"

sábado, 16 de outubro de 2010

Sem perdão não existe amanhã


                  Alguém já disse que a família é o lugar dos maiores amores e dos maiores ódios. Compreensível: quem mais tem capacidade de amar, mais tem capacidade de ferir. A mão que afaga é aquela de quem ninguém se protege, e quando agride, causa dores na alma, pois toca o ponto mais profundo de nossas estruturas afetivas. Isso vale não apenas para a família nuclear: pais e filhos, mas também para as relações de amizade e parceria conjugal, por exemplo.

                 Em mais de vinte anos de experiência pastoral observei que poucos sofrimentos se comparam às dores próprias de relacionamentos afetivos feridos pela maldade e crueldade consciente ou inconsciente. Os males causados pelas pessoas que amamos e acreditamos que também nos amam são quase insuperáveis. O sofrimento resultado das fatalidades são acolhidos como vindos de forças cegas, aleatórias e inevitáveis. Mas a traição do cônjuge, a opressão dos pais, a ingratidão dos filhos, a rixa entre irmãos, nos chegam dos lugares menos esperados: justamente no ninho onde deveríamos estar protegidos se esconde a peçonha letal.

            Poucas são minhas conclusões, mas enxerguei pelo menos três aspectos dessa infeliz realidade das dores do amar e ser amado. Primeiro, percebo que a consciência da mágoa e do ressentimento nos chega inesperada, de súbito, como que vindo pronta, completa, de algum lugar. Mas quando chega nos permite enxergar uma longa história de conflitos, mal entendidos, agressões veladas, palavras e comentários infelizes, atos e atitudes danosos, que foram minando a alegria da convivência, criando ambientes de estranhamento e tensões, e promovendo distâncias abissais.

         Quando nos percebemos longe das pessoas que amamos é que nos damos conta dos passos necessários para que a trilha do ressentimento fosse percorrida: um passo de cada vez, muitos deles pequenos e que na ocasião foram considerados irrelevantes, mas somados explicam as feridas profundas dos corações.

         Outro aspecto das dores do amar e ser amado está no paradoxo das razões de cada uma das partes. Acostumados a pensar em termos da lógica cartesiana: 1 + 1 = 2 e B vem depois de A e antes de C, nos esquecemos que a vida não se encaixa nos padrões de causa e efeito do mundo das ciências exatas. Pessoas não são máquinas, emoções e sentimentos não são números, relacionamentos não são engrenagens.

        Imaginar que as relações afetivas podem ser enquadradas na simplicidade dos conceitos certo e errado, verdade e mentira, preto e branco é uma ingenuidade. A vida é zona cinzenta, pessoas podem estar certas e erradas ao mesmo tempo, cada uma com sua razão, e a verdade de um pode ser a mentira do outro. Os sábios ensinam que “todo ponto de vista é a vista de um ponto”, e considerando que cada pessoa tem seu ponto, as cores de cada vista serão sempre ou quase sempre diferentes. Isso me leva ao terceiro aspecto.

          Justamente porque as feridas dos corações resultam de uma longa história, lida de maneiras diferentes pelas pessoas envolvidas, o exercício de passar a limpo cada passo da jornada me parece inadequado para a reconciliação. Voltar no tempo para identificar os momentos cruciais da caminhada, o que é importante para um e para outro, fazer a análise das razões de cada um, buscar acordo, pedir e outorgar perdão ponto por ponto não me parece ser a melhor estratégia para a reaproximação dos corações e cura das almas.

           Estou ciente das propostas terapêuticas, especialmente aquelas que sugerem a necessidade de re–significar a história e seus momentos específicos: voltar nos eventos traumáticos e dar a eles novos sentidos. Creio também na cura pela fala. Admito que a tomada de consciência e a possibilidade de uma nova consciência produzem libertações, ou, no mínimo, alívios, que de outra maneira dificilmente nos seriam possíveis. Mas por outro lado posso testemunhar quantas vezes já assisti esse filme, e o final não foi nada feliz.

          Minha conclusão é simples (espero que não simplória): o que faz a diferença para a experiência do perdão não é a qualidade do processo de fazer acordos a respeito dos fatos que determinaram o distanciamento, mas a atitude dos corações que buscam a reaproximação. Em outras palavras, uma coisa é olhar para o passado com a cabeça, cada um buscando convencer o outro de sua razão, e bem diferente é olhar para o outro com o coração amoroso, com o desejo verdadeiro do abraço perdido, independentemente de quem tem ou deixa de ter razão. Abraços criam espaço para acordos, mas acordos nem sempre terminam em abraços.

            Essa foi a experiência entre José e seus irmãos. Depois de longos anos de afastamento e uma triste história de competições explícitas, preferências de pai e mãe, agressões, traições e abandonos, voltam a se encontrar no Egito: a vitima em posição de poder contra seus agressores. José está diante de um dilema: fazer justiça ou abraçar. Deseja abraçar, mas não consegue deixar o passado para trás. Ao tempo em que fala com seus irmãos sai para chorar, e seu desespero é tal que todos no palácio escutam seu pranto.

            Mas ao final se rende: primeiro abraça e depois discute o passado. Essa é a ordem certa. Primeiro, porque os abraços revelam a atitude dos corações, mais preocupados em se aproximar do que em fazer valer seus direitos e razões. Depois, porque, no colo do abraço o passado perde força e as possibilidades de alegrias no futuro da convivência restaurada esvaziam a importância das tristezas desse passado funesto.

            Quando as pessoas decidem colocar suas mágoas sobre a mesa, devem saber que manuseiam nitroglicerina pura. As palavras explodem com muita facilidade, e podem causar mais destruição do que promover restauração. Não são poucos os que se atrevem a resolver conflitos, e no processo criam outros ainda maiores, aprofundam as feridas que tentavam curar, ou mesmo ferem novamente o que estava cicatrizado. Tudo depende do coração. O encontro é ao redor de pessoas ou de problemas? A intenção é a reconciliação entre as pessoas ou a busca de soluções para os problemas? Por exemplo, quando percebo que sua dívida para comigo afastou você de mim, vou ao seu encontro em busca do pagamento da dívida ou da reaproximação afetiva? Nem sempre as duas coisas são possíveis.

           Infelizmente, minha experiência mostra que a maioria das pessoas prefere o ressarcimento da dívida em detrimento do abraço, o que fatalmente resulta em morte: as pessoas morrem umas para as outras e, consequentemente, as relações morrem também. A razão é óbvia: dívidas de amor são impagáveis, e somente o perdão abre os horizontes para o futuro da comunhão. Ficar analisando o caderno onde as dívidas estão anotadas e discutindo o que é justo e injusto, quem prejudicou quem e quando, pode resultar em alguma reparação de justiça, mas isso é inútil – dívidas de amor são impagáveis.

            Mas o perdão tem o dia seguinte. Os que mutuamente se perdoam e se abraçam não são mais capazes de ferir um ao outro. Ainda que desobrigados pelo perdão, farão todo o possível para reparar os danos do caminho. Mas já não buscam justiça. Buscam comunhão. Já não o fazem porque se sentem culpados e querem se justificar para si mesmos ou para quem quer que seja, mas porque se percebem amados e não têm outra alternativa senão retribuir amando.

           As experiências de perdão que não resultam na busca do que é justo desmerecem o perdão e esvaziam sua grandeza e seu poder de curar. Perdoar é diferente de relevar. Perdoar é afirmar o amor sobre a justiça, sem jamais sacrificar o que é justo. O perdão coloca as coisas no lugar. E nos capacita a conviver com algumas coisas que jamais voltarão ao lugar de onde não deveriam ter saído. Sem perdão não existe amanhã.

Por Ed René Kivitz. Um dos maiores teólogos e pensadores cristãos do Brasil.

sábado, 2 de outubro de 2010

O cuidado de Deus

        
 
               Quando o sol se põe e a noite chega, somente Tu és capaz de me guiar. Quando a tempestade me alcança, somente Tu és capaz de ser o meu abrigo. Quando o mar começa a me submergir, somente a Tua mão consegue me trazer à tona para respirar e, ainda, me faz andar sobre as águas.

               Realmente não posso entender os Teus caminhos. Justamente por isso percebo que Tu estás presente na minha vida. É quando toda a lógica parece estar ausente que fica nítido que a Tua presença não é fantasia, não é alucinação, não é alienação, não é burrice, não é fanatismo. O Senhor alivia uma grande dor para que possamos suportar uma outra. Coincidência? Impossível.

               É inacreditável a carga de força que recebemos de Ti nos momentos mais difíceis. São dias em que, apesar de nos sentirmos abandonados em alguns momentos, sentimos o Senhor quase que de forma palpável perto de nós. E toda dúvida se dissipa. Todas as questões e reclamações se dissolvem. Pois sentimos um amor sobrenatural que vem de Ti.

               Quem olha de fora pode enxergar um ingênuo, que mesmo sofrendo tragédias, uma atrás da outra, parece que não vê que está sozinho nesse mundo. Mas agora entendo que a fé precisa de uma dose de falta de lógica mesmo. Parece que os outros gritam: "Amaldiçoa o teu Deus e morre!"... Mas como loucos eles falam... Não Te conhecem. Eu também Te conhecia só de ouvir falar, mas agora os meus olhos te vêem!

               Tens posto as pessoas certas em volta de mim para me sustentar. Tens me oferecido uma grande estrutura de amor e carinho no meio dos escombros da guerra. O Senhor me deu, o Senhor tomou. Bendito seja o nome do Senhor!

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Feridos também curam

             
              O mundo é formado por pessoas feridas. Feridas pelos infortúnios da vida. Feridas pelos outros. Parece-me incoerente alguém pensar que para ajudar os outros nós não podemos estar feridos. Quem nunca foi ferido? Alguém se habilita? Pessoas adultas e maduras são pessoas feridas que, apesar disso, continuam vivendo. A grande questão é que são os feridos que curam os outros feridos.

              Enquanto estivermos concentrados nos nossos próprios problemas, as coisas parecerão muito mais difíceis. Estranhamente a felicidade parece acompanhar aqueles que se dedicam a servir aos outros. Aqueles que se dedicam a amenizar o sofrimento dos outros. Se bem compreendo o Evangelho, não é possível servir a Deus sem que se esteja servindo ao próximo.

             Não por acaso conhecemos estas palavras: "Aquele que achar a sua vida perdê-la-á, e aquele que perder a sua vida por amor de mim, acha-la-á." As pessoas mais infelizes são aquelas que vivem ensimesmadas. Gente egocêntrica, que tem um umbigo existencial praticamente sem fundo. Todos nós temos tendência a sermos assim, uns mais, outros menos. Mas sempre temos a opção de olhar para o lado.

       O apóstolo Paulo foi um dos homens mais sofridos do Novo Testamento. Acusado de traidor pelos judeus. Preso, chicoteado, humilhado e sofrendo com as desconfianças dos cristãos. Os três navios nos quais viajou naufragaram. Para onde ele ia, sabia que muitas dores o esperavam, mas ainda assim ajudou a muitos e deu tremendas lições de alegria em sua carta aos filipenses.
    
       Sempre teremos a possibilidade de ferir como fomos feridos, ou de oferecer ajuda para curar a ferida de alguém. E somente a segunda opção nos ensina o que significa "amar-mos uns aos outros". Que o amor ao próximo seja real em nossas vidas. E que nós possamos aprender a viver alegres apesar das circunstâncias, em harmonia com os outros, a exemplo da eterna harmonia do Pai, do Filho e do Espírito Santo!

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Coragem para recomeçar



               Coragem. Para recomeçar a vida, para recomeçar o dia, para recomeçar um relacionamento. É preciso coragem. É duro quando a gente percebe que em alguns momentos só temos duas opções: ou continuamos a vida ou desistimos de viver. É tentadora a opção de desistir. Pois somos realmente grandes vítimas - mas se há vítimas, há vilões - e, certamente, para alguém, nós é que somos os vilões.

              Às vezes, parece até cocaína, mas é só tristeza. Tempos em que os sonhos adormecem. Tempos em que não conseguimos mais acreditar nas pessoas. Tempos em que a vida perde a graça. Tempos em que a dura rotina se instala.

             A vida é feita de momentos assim. Quedas e recomeços. Que tenhamos coragem para levantar e sacudir a poeira. Sem falsas ilusões, mas com a esperança de uma criança. Que o brilho volte a frequentar os nossos olhos. Que a beleza e a poesia voltem a nos encantar! Voltemos a sorrir!

            Alegra-nos denovo, pois sabemos que a alegria legítima vem de Ti, ó Pai, o Deus da alegria !!!

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Viver não é preciso


É assim
Navegar é preciso
Não admite nossos erros
O mar cobra com veemência
Os distraídos, desatentos marinheiros

É assim
Certas coisas
Podemos até dizer
Que parecem simetria ter
Mas bem diferente é o nosso viver

Sabemos que é preciso saber a vida levar
Buscamos sincronia fora do mar
Como se tudo fosse
Tão fácil
Doce

Mas nosso viver não é preciso, não é exato
Não é calculado, previsível assim
Até um insensível, um fraco
Sofre amor, um parto
E fim

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Eu também não te condeno



               Pode procurar que você não vai achar. Não importa aonde vá, estou absolutamente convencido de que há duas coisas que você nunca vai achar. Você pode correr o mundo e o tempo, e tenho certeza que jamais conseguirá achar alguém que não se envergonhe de algo em seu passado. Para qualquer lugar que você vá, lá estarão elas, as pessoas que gostariam de apagar um momento, uma fase, um ato, uma palavra, um mínimo pensamento.

              Todo mundo tenta disfarçar, e certamente há aqueles que conseguem viver longos períodos sem o tormento da lembrança. Mas mesmo estes, quando menos esperam são assombrados pela memória de um ato de covardia, um gesto de pura maldade, um desejo mórbido, um abuso calculado, enfim, algo que jamais deveriam ter feito, e que na verdade, gostariam de banir de suas histórias ou, pelo menos, de suas recordações.

              Isso é uma péssima notícia para a humanidade, mas uma ótima notícia para você: você não está sozinho, você não está sozinha. Inclusive as pessoas que olham em sua direção com aquela empáfia moral e sugerem cinicamente que você é um ser humano de segunda ou terceira categoria, carregam uma página borrada em sua biografia, grampeada pela sua arrogância e selada pelo medo do escândalo, da rejeição e da condenação no tribunal onde a justiça jamais é vencida.

            Você não está sozinho. Você não está sozinha. Não importa o que tenha feito ou deixado de fazer, e do que se arrependa no seu passado, saiba que isso faz de você uma pessoa igual a todas as outras: a condição humana implica a necessidade da vergonha.

             A segunda coisa que você nunca vai encontrar é um pecado original. Não tenha dúvidas, o mal que você fez ou deixou de fazer está presente em milhares e milhares de sagas pessoais. Não existe algo que você tenha feito ou deixado de fazer que faça de você uma pessoa singular no banco dos réus – ao seu lado estão incontáveis réus respondendo pelo mesmíssimo crime.

            Talvez você diga, “é verdade, todos têm do que se envergonhar, mas o que eu fiz não se compara ao que qualquer outra pessoa possa ter feito”. Engano seu. O que você fez ou deixou de fazer não apenas se compara, como também é replicado com absoluta exatidão na experiência de milhares e milhares de outras pessoas. Isso significa que você jamais está sozinho, jamais está sozinha, na fila da confissão.

            Talvez por estas razões, a Bíblia Sagrada diz que devemos confessar nossas culpas uns aos outros: os humanos não nos irmanamos nas virtudes, mas na vergonha. Este é o caminho de saída do labirinto da culpa e da condenação: quando todos sussurrarmos uns aos outros “eu não te condeno”, ouviremos a sentença do Justo Juiz: “ninguém te condenou? Eu também não te condeno”.

           É isso, ou o jogo bruto de sermos julgados com a medida com que julgamos. A justiça do único justo reveste os que têm do que se envergonhar quando os que têm do que se envergonhar desistem de ser justos.

Por Ed René Kivitz. Teólogo brasileiro.Para mim, um dos maiores pensadores cristãos do mundo.(http://outraespiritualidade.blogspot.com/2007/09/eu-tambm-no-te-condeno.html)

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Já não sei



Facil é ser homem bom
Quando o mal vem devagar
Quando a vida parece se justificar
E o sol brilha sem parar
E o mundo te estende a mão

Mas viver tem o seu pesar
Eu sei
Lutas vão continuar
Mas pensei
Que iria me equilibrar
Sobre o chão que imaginava ter

Agora sei
Que o mais lúcido é dizer
Que e o alvo é viver
Um dia de cada vez
E sobre quase tudo mais
Já não sei

Só sei que conheço um
Que conhece-me mais que eu
E faz o dia amanhecer
Outra vez

Quando nada mais faz sentido
O abismo flerta comigo
Mas espero ansioso pelo dia
Em que por grandiosa alegria
Sei que serei surpreendido

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Quem roubou meu chão?


Quando a tragédia encontra as pessoas boas

                Há ocasiões em que a dor que sentimos parece ser maior que a vida. São momentos em que o mundo fica cinza e todas as certezas desaparecem. Tiram o nosso chão. Nada mais faz sentido. Não adianta se perguntar onde foi que erramos, pois a questão não é o erro. A questão é que estamos vivos, somos humanos e vivemos ao lado de seres humanos. Errantes. Falhos.

               No auge da dor a impressão que temos é que vamos vomitar nossos órgãos, um a um. É triste constatar que a vida não segue uma lógica. Pessoas más prosperam diante dos nossos olhos. Pessoas boas são acometidas de males terríveis. Justamente os justos. Não é a toa que alguém disse um dia "Se Deus trata asim os seus amigos, imagine os seus inimigos..."Mas o Pai continua sendo Deus bondoso. Perdoa as nossas reclamações, indignações e ingratidões.

              Ele não evita que o sofrimento chegue até os seus. As regras do jogo estão postas para todos, mas Ele nos sustenta até o fim. Mesmo que todos nos sejam infiéis. Mesmo que nossa confiança nas pessoas que amamos seja tremendamente abalada. Mesmo que todos venham a nos ferir - e ferirão - Ele é o Deus de amor. Um amor que não é superprotetor, é inteligente e nos fortalece para que vençamos as batalhas dessa vida.

              Dói. Um dia de cada vez. Um espinho retirado a cada manhã. Nem toda tragédia, creio eu, ocorre por um propósito específico. Mas desejo que cada uma delas sirva pra alguma coisa. E que elas sejam abreviadas nessa jornada até o destino final, a nossa casa celestial. Enquanto isso, que os queridos enviados pelo Pai continuem a nos abençoar com sua presença. Sigamos o nosso caminho, ainda que seja uma via dolorosa.

             Parece-me que toda vez que um cristão se propõe a explicar certos aspectos da vida às pessoas, baseado em suas reflexões teóricas, não muito tempo depois, ele acaba tendo de experimentar a prática. Se minha voz tivesse força igual a imensa dor que sinto, meu grito acordaria não só a minha casa, mas a vizinhança inteira - quem sabe, todo o mundo. Quis falar sobre sofrimento, agora começo a saber bem do que estou falando. Eis-me aqui, Senhor.

            Maus somos eu e os outros. Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. O Deus que é bom!

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Você reflete sobre o seu caminho?

  
                Certo dia, um bezerro precisou atravessar uma floresta virgem para voltar a seu pasto. Sendo um animal irracional, abriu uma trilha tortuosa... cheia de curvas... subindo e descendo colinas.
No dia seguinte, um cão que passava por ali usou essa mesma trilha torta para atravessar a floresta.

               Depois foi a vez de um carneiro, líder de um rebanho, que fez seus companheiros seguirem pela trilha torta. Mais tarde, os homens começaram a usar esse caminho: entravam e saíam, viravam à direita, à esquerda, baixando-se, desviando-se de obstáculos, reclamando e praguejando, até com um pouco de razão . . . mas não faziam nada para mudar a trilha .

              Depois de tanto uso, esta acabou virando uma estradinha onde os pobres animais se cansavam sob cargas pesadas, sendo obrigados a percorrer, em três horas, uma distância que poderia ser vencida em, no máximo, uma hora, caso a trilha não tivesse sido aberta por um bezerro. Muitos anos se passaram e a estradinha tornou-se a rua principal de um vilarejo e, posteriormente, a avenida principal de uma cidade .

             Logo, a avenida transformou-se no centro de uma grande metrópole, e por ela passaram a transitar diariamente milhares de pessoas, seguindo a mesma trilha torta feita pelo bezerro centenas de anos antes . . .

             Os homens têm a tendência de seguir como cegos pelas trilhas de bezerros de suas mentes, e se esforçam de sol a sol a repetir o que os outros já fizeram. Contudo, a velha e sábia floresta ria daquelas pessoas que percorriam aquela trilha, como se fosse um caminho único . . . sem se atrever a mudá-lo.

            Não faz sentido alguém seguir qualquer coisa somente por que os outros seguem.  Precisamos fundamentar aquilo que fazemos e aquilo que cremos.
           
            A propósito, você ja parou para pensar se o seu caminho faz sentido?

terça-feira, 27 de julho de 2010

Ele veio morar em nós


            O grande mistério revelado por ocasião do Pentecostes é este: Cristo veio habitar em nós. Este é o diferencial do Cristianismo. Geralmente os movimentos religiosos buscam um ser maior que está fora deles, em algum lugar distante, para que este ser venha aqui e resolva nossos problemas. O cristão afirma que o Espírito Santo habita dentro dele. Por isso nossas orações pedem para que Ele nos fortaleça para que nós possamos resolver os problemas.

           Sabemos que não seremos livrados de todos os males do mundo, porque o nosso Deus, o Pai de Jesus, faz o sol se levantar sobre justos e injustos. E nos avisa: "Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me;" (Mat 16:24). Tomar a cruz pode ter vários significados, um deles é o de saber que está sujeito a dores fortíssimas. Jesus nunca prometeu vida fácil àqueles que se tornassem seus discípulos, quem faz isto são alguns religiosos contemporâneos que prometem bênçãos materiais a quem seguir seus "7 passos para sei lá o que..."

           Sofrimento. Muitas vezes é isso que acontece com qualquer pessoa, cristã ou não-cristã. Não há nenhum contrato que mencione uma bolha de proteção para os seguidores fiéis de Jesus. Mas Ele nos garantiu que estaria conosco em toda e qualquer situação: "Eis que eu estou convosco todos os dias” Mateus 28:20. Esta é a nossa alegria.
         
          Podemos até não entender porque estamos sofrendo, mas sabemos muito bem em quem temos crido e temos a convicção de que Ele está sendo formado em nós, num processo de aperfeiçoamento, longo, porém, eficaz . Por isso pedimos que nos capacite a superar as crises e, não, que nos isente de todas elas. Essa é a maneira como o nosso Deus trabalha nos tempos da graça. Bendito seja o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo!!!

Mais do mesmo


                    É importante sabermos que a afirmação cristã de que o nosso Deus é o Pai de Jesus Cristo não significa, necessariamente, que seja um Deus diferente do Deus de Israel, da Bíblia Hebraica - ou do Antigo Testamento. O que alguns de nós entendemos é que Ele é o mesmo em sua essência, mas mudou radicalmente a forma de lidar conosco quando se revelou por completo na pessoa do Seu Filho. Antes era "olho por olho, dente por dente". Antes imperava a justiça retributiva. Cada um tinha o que merecia. Agora, nos tempos da graça, nós temos o privilégio de saber que o nosso Deus, na verdade, é aquele que manda amar e perdoar os nossos inimigos.
             
                  Se você tiver dúvida sobre o posicionamento de Deus em alguma situação, olhe para Jesus nas Escrituras e você saberá como Ele é. Ele se esvaziou do seu "todo-poder" para encarnar como "todo-amor". A palavra da Bíblia Sagrada que melhor define o nosso Pai não é o poder, é o Amor. Por isso ele optou por não exterminar os maus, mas resgatá-los através da multiplicação dos bons. "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu único Filho, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha vida eterna" (Jo 3:16). Seja você também um multiplicador de amor!

Uma dimensão de vida


               É curioso o fato de não nos darmos conta de que, assim como a corporeidade e a racionalidade, a espiritualidade é uma dimensão de nossa vida. Ninguém questiona que a dimensão corpórea do ser humano
é algo importantíssimo, por isso existem os médicos, fisioterapeutas e professores de Educação Física. Ninguém acha estranho que uma pessoa leia, estude e se desenvolva intelectualmente. Mas muitas pessoas entendem que a espiritualidade tem de ficar em segundo plano.

              Não estou falando, necessariamente, sobre religião. É possível ser religioso sem ser espiritual e também é possível ser espiritual sem ser religioso. Todos temos a dimensão humana chamada espiritualidade, assim como todos temos corporeidade e racionalidade. Religião é apenas a forma de vivenciarmos a nossa espiritualidade. Na espiritualidade cristã, é importante que consigamos perceber que o cristão é um agente colaborador. É alguém que trabalha junto com Deus para que esse caos que é o mundo se transforme em cosmos - beleza organizada.
            
              Certamente você pode não se preocupar muito com nenhuma das suas dimensões de vida. Mas, para cada negligência, há suas consequências. Em algum momento da vida, por melhor que seja a pessoa, ela precisará de uma estrutura espiritual para suportar as contingências da vida. Você pode até ignorar a espiritualidade, mas ela existe e é real. Por isso, quer você seja consciente ou não, há disputas sendo feitas por sua causa. Você escolhe dar importância ou não. Mas Cristo deseja habitá-lo e transformá-lo em mais um agente do Bem, a serviço de Deus e do próximo. Deus nos abençoe!

Por que Deus não acaba com o mal?



                Não é raro nos depararmos com algumas questões existenciais que deixam os teístas (Aqueles que acreditam em Deus) em situação difícil. Uma delas é esta: se Deus existe e se Ele é bom, por que Ele não acaba com o mal? A Filosofia e a Teologia têm, inclusive, uma disciplina que serve para tentar explicar esse dilema. É a Teodicéia.
     
               Na verdade, o mal, como ente autônomo, não existe. O que existe são seres (pessoas ou espíritos) maldosos. O mal é o resultado do afastamento que alguns seres têm de Deus, por causa de suas escolhas, fruto do livre-arbítrio. Já dizia Albert Einstein: Assim como a física entende que o frio não existe por si mesmo (é apenas ausência de calor), e a escuridão também não tem existência própria (não passa de ausência de luz), o mal é apenas a constatação do distanciamento da bondade, que emana abundantemente do Criador.

              Se nós somos aqueles que estamos sendo transformados para que cheguemos a toda plenitude de Cristo, temos de ser os agentes da bondade. É conosco que Deus conta para que o mal seja exterminado. Se Ele destruísse o mal, teria de destruir o malvado, o maldoso. A forma que o Pai usa para acabar com o mal é multiplicando os bondosos. Se você for um agente do Reino de Deus e do amor, você é parte do processo de extermínio do mal no mundo.

              E chegará o dia em que o pai da maldade, o pai da mentira, será eliminado para sempre. Enquanto esse dia não chega, precisamos cooperar com o Pai para que este mundo seja minimamente habitável, o menos caótico possível. Assim seremos parceiros nessa grande agência, que é o Reino de Deus.

"Abba": O Pai de Jesus


              "Abba" é uma palavra de origem hebraica que significa "papai" falada por uma criança. Seria algo como: "papa"...

              De forma geral, a religião institucionalizada tenta nos empurrar goela abaixo a imagem de uma divindade cruel, que nos amaldiçoa e vive nos censurando em tudo o que fazemos. Essa divindade mata e manda matar em seu nome. Faz distinção entre espaço sagrado e profano, quer ser adorada num dia específico e exige sacerdotes profissionais que realizam um culto em homenagem a ela.

             O Deus que Jesus nos apresenta nada tem a ver com isto. O Pai de Jesus se revelou por completo através dele, deixou claro que o cristianismo não precisa de templos e de dias santos para existir, nos ensinou que a verdadeira adoração ocorre através da prática do amor ao próximo e que seu desejo não é lançar bolas de fogo sobre aqueles que não o aceitam.
             Realmente não é nada interessante para o mercado religioso - o mercado da ilusão - que alguém pregue um Deus que nos ama como somos, apesar de não nos deixar como estamos. Pois isto acabaria com a indústria da fé. Por isso tentam, até hoje, escondê-Lo. Afinal, as pessoas querem mesmo é um Deus poderoso para fazer o que elas desejam, dar-lhes a vitória e "colocá-las como cabeça e não como cauda". Ninguém quer um Deus que manda perdoar, que avisa que vamos sofrer muito por Ele e que quer transformar egoístas e egocêntricos em gente que dá a outra face.
            Ele é aquele que ensina a orar pelos nossos inimigos, que perdoa as nossas dívidas. Por isso, nos encoraja a fazer o mesmo. Em suma, é o Amor em si mesmo. Ele não está preso a lugares, objetos ou dias sagrados. Ele é aquele que nos ensina a serví-Lo através do serviço ao próximo. É um Deus que se importa com as pessoas. Esse, sim, é o Deus e Pai de nosso senhor Jesus Cristo, como já disse o apóstolo Paulo. E é, também, o nosso Pai, o nosso "Abba".

segunda-feira, 26 de julho de 2010

A conciliação entre Fé e Ciência


               "A opinião comum de que sou ateu repousa sobre grave erro. Quem a pretende deduzir de minhas teorias científicas não as entendeu.Creio em um Deus pessoal e posso dizer que, nunca, em minha vida, cedi a uma ideologia atéia. Não há oposição entre a ciência e a religião. Apenas há cientistas atrasados, que professam idéias que datam de 1880... Aos dezoito anos, eu já considerava as teorias sobre o evolucionismo mecanicista e casualista como irremediavelmente antiquadas...
               Há, porém, várias maneiras de se representar Deus. Alguns o representam como o Deus mecânico, que intervém no mundo para modificar as leis da natureza e o curso dos acontecimentos. Querem pô-lo a seu serviço, por meio de fórmulas mágicas. É o Deus de certos primitivos, antigos ou modernos. Outros o representam como o Deus jurídico, legislador e agente policial da moralidade, que impõe o medo e estabelece distâncias. Outros, enfim, como o Deus interior, que dirige por dentro todas as coisas e que se revela aos homens no mais íntimo da consciência.
               A mais bela e profunda emoção que se pode experimentar é a sensação do místico (relação com Deus – transcendental). Este é o semeador da verdadeira ciência. Aquele a quem seja estranha tal sensação, aquele que não mais possa devanear e ser empolgado pelo encantamento, não passa, em verdade, de um morto. Saber que realmente existe aquilo que é impenetrável a nós, e que se manifesta como a mais alta das sabedorias e a mais radiosa das belezas, que as nossas faculdades embotadas só podem entender em suas formas mais primitivas, esse conhecimento, esse sentimento está no centro mesmo da verdadeira religiosidade.
              A experiência cósmica religiosa é a mais forte e a mais verdadeira fonte de pesquisa científica. Minha religião consiste em humilde admiração do espírito superior e ilimitado que se revela nos menores detalhes que podemos perceber em nossos espíritos frágeis e incertos. Essa convicção, profundamente emocional na presença de um poder racionalmente superior, que se revela no incompreensível universo, é a idéia que faço de Deus."

“A ciência sem a religião é manca; a religião sem a ciência é cega”.
Albert Einstein