A palavra aramaica "Abba" - que significa papai - expressa muito bem quem é o verdadeiro Deus dos cristãos: Aquele que quer se relacionar conosco como o nosso Papai, o Deus que é amor incondicional...





terça-feira, 31 de agosto de 2010

Feridos também curam

             
              O mundo é formado por pessoas feridas. Feridas pelos infortúnios da vida. Feridas pelos outros. Parece-me incoerente alguém pensar que para ajudar os outros nós não podemos estar feridos. Quem nunca foi ferido? Alguém se habilita? Pessoas adultas e maduras são pessoas feridas que, apesar disso, continuam vivendo. A grande questão é que são os feridos que curam os outros feridos.

              Enquanto estivermos concentrados nos nossos próprios problemas, as coisas parecerão muito mais difíceis. Estranhamente a felicidade parece acompanhar aqueles que se dedicam a servir aos outros. Aqueles que se dedicam a amenizar o sofrimento dos outros. Se bem compreendo o Evangelho, não é possível servir a Deus sem que se esteja servindo ao próximo.

             Não por acaso conhecemos estas palavras: "Aquele que achar a sua vida perdê-la-á, e aquele que perder a sua vida por amor de mim, acha-la-á." As pessoas mais infelizes são aquelas que vivem ensimesmadas. Gente egocêntrica, que tem um umbigo existencial praticamente sem fundo. Todos nós temos tendência a sermos assim, uns mais, outros menos. Mas sempre temos a opção de olhar para o lado.

       O apóstolo Paulo foi um dos homens mais sofridos do Novo Testamento. Acusado de traidor pelos judeus. Preso, chicoteado, humilhado e sofrendo com as desconfianças dos cristãos. Os três navios nos quais viajou naufragaram. Para onde ele ia, sabia que muitas dores o esperavam, mas ainda assim ajudou a muitos e deu tremendas lições de alegria em sua carta aos filipenses.
    
       Sempre teremos a possibilidade de ferir como fomos feridos, ou de oferecer ajuda para curar a ferida de alguém. E somente a segunda opção nos ensina o que significa "amar-mos uns aos outros". Que o amor ao próximo seja real em nossas vidas. E que nós possamos aprender a viver alegres apesar das circunstâncias, em harmonia com os outros, a exemplo da eterna harmonia do Pai, do Filho e do Espírito Santo!

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Coragem para recomeçar



               Coragem. Para recomeçar a vida, para recomeçar o dia, para recomeçar um relacionamento. É preciso coragem. É duro quando a gente percebe que em alguns momentos só temos duas opções: ou continuamos a vida ou desistimos de viver. É tentadora a opção de desistir. Pois somos realmente grandes vítimas - mas se há vítimas, há vilões - e, certamente, para alguém, nós é que somos os vilões.

              Às vezes, parece até cocaína, mas é só tristeza. Tempos em que os sonhos adormecem. Tempos em que não conseguimos mais acreditar nas pessoas. Tempos em que a vida perde a graça. Tempos em que a dura rotina se instala.

             A vida é feita de momentos assim. Quedas e recomeços. Que tenhamos coragem para levantar e sacudir a poeira. Sem falsas ilusões, mas com a esperança de uma criança. Que o brilho volte a frequentar os nossos olhos. Que a beleza e a poesia voltem a nos encantar! Voltemos a sorrir!

            Alegra-nos denovo, pois sabemos que a alegria legítima vem de Ti, ó Pai, o Deus da alegria !!!

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Viver não é preciso


É assim
Navegar é preciso
Não admite nossos erros
O mar cobra com veemência
Os distraídos, desatentos marinheiros

É assim
Certas coisas
Podemos até dizer
Que parecem simetria ter
Mas bem diferente é o nosso viver

Sabemos que é preciso saber a vida levar
Buscamos sincronia fora do mar
Como se tudo fosse
Tão fácil
Doce

Mas nosso viver não é preciso, não é exato
Não é calculado, previsível assim
Até um insensível, um fraco
Sofre amor, um parto
E fim

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Eu também não te condeno



               Pode procurar que você não vai achar. Não importa aonde vá, estou absolutamente convencido de que há duas coisas que você nunca vai achar. Você pode correr o mundo e o tempo, e tenho certeza que jamais conseguirá achar alguém que não se envergonhe de algo em seu passado. Para qualquer lugar que você vá, lá estarão elas, as pessoas que gostariam de apagar um momento, uma fase, um ato, uma palavra, um mínimo pensamento.

              Todo mundo tenta disfarçar, e certamente há aqueles que conseguem viver longos períodos sem o tormento da lembrança. Mas mesmo estes, quando menos esperam são assombrados pela memória de um ato de covardia, um gesto de pura maldade, um desejo mórbido, um abuso calculado, enfim, algo que jamais deveriam ter feito, e que na verdade, gostariam de banir de suas histórias ou, pelo menos, de suas recordações.

              Isso é uma péssima notícia para a humanidade, mas uma ótima notícia para você: você não está sozinho, você não está sozinha. Inclusive as pessoas que olham em sua direção com aquela empáfia moral e sugerem cinicamente que você é um ser humano de segunda ou terceira categoria, carregam uma página borrada em sua biografia, grampeada pela sua arrogância e selada pelo medo do escândalo, da rejeição e da condenação no tribunal onde a justiça jamais é vencida.

            Você não está sozinho. Você não está sozinha. Não importa o que tenha feito ou deixado de fazer, e do que se arrependa no seu passado, saiba que isso faz de você uma pessoa igual a todas as outras: a condição humana implica a necessidade da vergonha.

             A segunda coisa que você nunca vai encontrar é um pecado original. Não tenha dúvidas, o mal que você fez ou deixou de fazer está presente em milhares e milhares de sagas pessoais. Não existe algo que você tenha feito ou deixado de fazer que faça de você uma pessoa singular no banco dos réus – ao seu lado estão incontáveis réus respondendo pelo mesmíssimo crime.

            Talvez você diga, “é verdade, todos têm do que se envergonhar, mas o que eu fiz não se compara ao que qualquer outra pessoa possa ter feito”. Engano seu. O que você fez ou deixou de fazer não apenas se compara, como também é replicado com absoluta exatidão na experiência de milhares e milhares de outras pessoas. Isso significa que você jamais está sozinho, jamais está sozinha, na fila da confissão.

            Talvez por estas razões, a Bíblia Sagrada diz que devemos confessar nossas culpas uns aos outros: os humanos não nos irmanamos nas virtudes, mas na vergonha. Este é o caminho de saída do labirinto da culpa e da condenação: quando todos sussurrarmos uns aos outros “eu não te condeno”, ouviremos a sentença do Justo Juiz: “ninguém te condenou? Eu também não te condeno”.

           É isso, ou o jogo bruto de sermos julgados com a medida com que julgamos. A justiça do único justo reveste os que têm do que se envergonhar quando os que têm do que se envergonhar desistem de ser justos.

Por Ed René Kivitz. Teólogo brasileiro.Para mim, um dos maiores pensadores cristãos do mundo.(http://outraespiritualidade.blogspot.com/2007/09/eu-tambm-no-te-condeno.html)

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Já não sei



Facil é ser homem bom
Quando o mal vem devagar
Quando a vida parece se justificar
E o sol brilha sem parar
E o mundo te estende a mão

Mas viver tem o seu pesar
Eu sei
Lutas vão continuar
Mas pensei
Que iria me equilibrar
Sobre o chão que imaginava ter

Agora sei
Que o mais lúcido é dizer
Que e o alvo é viver
Um dia de cada vez
E sobre quase tudo mais
Já não sei

Só sei que conheço um
Que conhece-me mais que eu
E faz o dia amanhecer
Outra vez

Quando nada mais faz sentido
O abismo flerta comigo
Mas espero ansioso pelo dia
Em que por grandiosa alegria
Sei que serei surpreendido

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Quem roubou meu chão?


Quando a tragédia encontra as pessoas boas

                Há ocasiões em que a dor que sentimos parece ser maior que a vida. São momentos em que o mundo fica cinza e todas as certezas desaparecem. Tiram o nosso chão. Nada mais faz sentido. Não adianta se perguntar onde foi que erramos, pois a questão não é o erro. A questão é que estamos vivos, somos humanos e vivemos ao lado de seres humanos. Errantes. Falhos.

               No auge da dor a impressão que temos é que vamos vomitar nossos órgãos, um a um. É triste constatar que a vida não segue uma lógica. Pessoas más prosperam diante dos nossos olhos. Pessoas boas são acometidas de males terríveis. Justamente os justos. Não é a toa que alguém disse um dia "Se Deus trata asim os seus amigos, imagine os seus inimigos..."Mas o Pai continua sendo Deus bondoso. Perdoa as nossas reclamações, indignações e ingratidões.

              Ele não evita que o sofrimento chegue até os seus. As regras do jogo estão postas para todos, mas Ele nos sustenta até o fim. Mesmo que todos nos sejam infiéis. Mesmo que nossa confiança nas pessoas que amamos seja tremendamente abalada. Mesmo que todos venham a nos ferir - e ferirão - Ele é o Deus de amor. Um amor que não é superprotetor, é inteligente e nos fortalece para que vençamos as batalhas dessa vida.

              Dói. Um dia de cada vez. Um espinho retirado a cada manhã. Nem toda tragédia, creio eu, ocorre por um propósito específico. Mas desejo que cada uma delas sirva pra alguma coisa. E que elas sejam abreviadas nessa jornada até o destino final, a nossa casa celestial. Enquanto isso, que os queridos enviados pelo Pai continuem a nos abençoar com sua presença. Sigamos o nosso caminho, ainda que seja uma via dolorosa.

             Parece-me que toda vez que um cristão se propõe a explicar certos aspectos da vida às pessoas, baseado em suas reflexões teóricas, não muito tempo depois, ele acaba tendo de experimentar a prática. Se minha voz tivesse força igual a imensa dor que sinto, meu grito acordaria não só a minha casa, mas a vizinhança inteira - quem sabe, todo o mundo. Quis falar sobre sofrimento, agora começo a saber bem do que estou falando. Eis-me aqui, Senhor.

            Maus somos eu e os outros. Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. O Deus que é bom!