A palavra aramaica "Abba" - que significa papai - expressa muito bem quem é o verdadeiro Deus dos cristãos: Aquele que quer se relacionar conosco como o nosso Papai, o Deus que é amor incondicional...





sábado, 8 de dezembro de 2012

Reine sobre mim


"Quem pensa por si mesmo é livre. E ser livre é coisa muito séria! Não se pode fechar os olhos, não se pode olhar pra trás sem se aprender alguma coisa pro futuro"
Renato Russo



     
         Em que pese o clamor das pessoas por mais liberdade, até por herança dos traumas vividos numa época em que o nosso país era governado sob um regime impositivo, a maioria das pessoas, inconscientemente, tem medo da liberdade.

       Isso acontece por um motivo muito simples: quem é livre para fazer o que quer é obrigado a desenvolver responsabilidades que, na verdade, gostaria de delegar a outros. Ser livre implica medir a consequência de seus atos, rever conceitos e refletir sobre o sentido das coisas.

           Na minha experiência pessoal, pude perceber que é muito mais fácil eleger gurus para si e viver numa eterna e doentia dependência deles. É quando se vive perguntando: "- Fulano, é certo fazer isto?"... "É errado fazer aquilo?"...

          E o que não falta por aí é gente carente de afeto que sente a necessidade de controlar a vida do outro e ditar aquilo que se pode ou não se pode fazer. É por isso que muita gente se escandaliza com a Graça de Deus. Por que na Graça, a única lei que prevalece é a Lei do Amor.

          Mas, sem dúvida, é muito mais fácil querer ressuscitar a Lei e a cartilha do "pode-não-pode". Pois quem não tem lei minuciosa para seguir, segue a lei da própria consciência e do próprio coração. E isso só funciona, só dá certo, se o coração for transformado, consciente, convicto e maduro... Adulto não pergunta se "pode ou não pode". Adulto reflete e toma decisões. E depois assume as consequências das suas escolhas.

          A maioria de nós tem medo de decidir e prefere tutelas. Prefere aqueles que nos levem pela mão e nos guiem. É muito mais confortável! Quando se é livre, não há mais ninguém para te dizer o que fazer. É você que passa a ter a consciência da necessidade de não transformar a liberdade em libertinagem. É você que passa a ter a responsabilidade de discernir quando é a hora de estabelecer limites e negar a si mesmo.

          É por isso que foi dito: " Se alguém quiser, negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me"


domingo, 4 de novembro de 2012

Sal fora do saleiro



           

         Como cristãos nós somos o "sal da Terra". E sabemos que o sal, pra que salgue, precisa sair do saleiro. Do contrário fica inutilizado. Assim, também, nós precisamos deixar de viver em guetos, como se viver agrupado nas igrejas fosse um fim em si mesmo. Nossas celebrações e reuniões periódicas nos preparam para que estejamos vivendo na sociedade transmitindo os valores cristãos. Portanto, o objetivo é estar no mundo sinalizando o Reino de Deus, de forma que as pessoas nos vejam com o brilho do Espírito Santo.

      Vocês são o sal da terra. Mas se o sal perder o seu sabor, como restaurá-lo? Não servirá para nada, exceto para ser jogado fora e pisado pelos homens. (Mateus 5:13)

           Os três anos de ministério terreno de Jesus foram vividos "fora do saleiro", fora do ambiente confinado da religião. É na sociedade, e no mundo, onde a vida mais acontece com toda a sua intensidade, que Jesus se encontra. A vida em sociedade é o cenário onde vemos Jesus com mais frequência nos Evangelhos. E, curiosamente, um de seus lugares prediletos foi a praia (Mateus 13:3; Marcos 4:1; Lucas 5:3; João 21:4)

        "Os conteúdos cristãos tem que ser colocados de maneira que a sociedade humana os perceba, a fim de que o desejo de Jesus se cumpra; para que, vendo o caráter da Igreja e suas ações, o nome do Pai, que está nos céus, seja glorificado. Isto é ver a reprodução do "jeito" de Deus no mundo, nos Seus filhos que, à semelhança do Pai, são bondosos, generosos, sensíveis para amar e perdoar, humanos, intensamente apaixonados pela obra, comprometidos com a missão, conscientes do seu tempo e da sua hora e da responsabilidade para com Deus e para com o mundo, respondendo a este com o mesmo amor com o qual Deus reage todos os dias, fazendo vir sol sobre maus e bons e chuva sobre justos e injustos." (Caio Fabio. Sal Fora do Saleiro)

            A beleza da vida é justamente ver que todos somos diferentes uns dos outros e, mesmo assim, convivermos em amor verdadeiro. O toque de Jesus na vida de cada um de nós não nos faz todos iguais, como se fôssemos um  exército de soldadinhos de chumbo. Pelo contrário, ocorre conosco o mesmo que com os alimentos quando recebem uma pitada de sal. Os alimentos não ficam todos com sabor de sal, eles tem seu próprio sabor realçado pelo sal. Jesus não nos descaracteriza, ele realça nosso "eu", nos transformando no melhor "eu" que pudermos ser!

            Portanto, amigo, vale a pena repensar sua maneira de enxergar as coisas. Se eu me considero alguém realmente transformado e, principalmente, adulto, poderei estar infiltrado nas festas, nas praças e onde mais a vida aconteça, pois tenho certeza do que penso e sou capaz de influenciar positivamente aqueles que nunca pisariam num templo. Aliás, é bom não esquecer, sou discípulo de um quebrador de paradigmas: o Cristo.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Coisa de Criança

        

          Por onde Jesus passava era possível ver crianças correndo em volta e se misturando na multidão. Os discípulos tentaram impedir que as crianças se amontoassem no colo de Jesus. Achavam que Jesus tinha coisa mais importante para fazer do que dar atenção às crianças, mas acabaram descobrindo que não apenas as crianças gostavam de Jesus, mas Jesus também gostava das crianças. Numa dessas ocasiões, Jesus pegou uma criança no colo e deixou muito claro que quem não se torna igual a uma criança não pode entrar no reino dos céus, pois o reino dos céus pertence aos que são semelhantes às crianças [Mateus 18.1-5; 19.13-15]. Naquele dia as crianças se tornaram um padrão para a espiritualidade cristã.



        Evidentemente, Jesus não pretendia que nos tornássemos iguais às crianças em todas as dimensões da infância. As crianças, por exemplo, não sabem o que é a gratidão, pois não têm noções de medidas abstratas. Não têm condições de avaliar o que é feito por elas, não sabem quanto sacrifício é necessário para que sejam cuidadas e não têm critérios para os custos da dedicação dos pais ou o valor das coisas que são oferecidas a elas. Por isso é que os pais vivem dizendo “diz obrigado para a titia”, “já disse obrigado para o vovô?”, pois se não o fizessem, as crianças simplesmente pegariam o presente e sairiam correndo para brincar. As crianças também não têm noções de tempo, distância e volume. Por isso é que usam palitos de fósforo para marcar quantos dias faltam para o passeio no zoológico, numa viagem longa perguntam de cinco em cinco minitutos se está chegando, e de noite, antes de irem para a cama, abrem os braços e dizem com aquele sorriso lindo “mamãe, eu te amo desse tamanho assim”.


          As crianças também estão absolutamente fora das categorias sociais de valores e importância. Tratam o general com a mesma displicência com que tratam o zelador do prédio onde moram, e falam as maiores barbaridades quando percebem algo inusitado em algum adulto que pretende conquistar sua simpatia, deixando os pais ruborizados e constrangidos. Elas não sabem quem é importante e quem não é. Elas ainda não foram contaminadas com os paradigmas do mercado, que valora pessoas de acordo com posição social, conta bancária, ou potencial de favorecimento e trocas de favores. Não fazem a menor ideia, por exemplo, de que é preciso um sorriso de plástico para o senhorio que chegou para tratar do aumento do aluguel, ou demonstrar especial apreço ao chefe que veio para o jantar. Isso significa que uma criança jamais perguntaria para Jesus “quem é o mais importante no reino dos céus?”, pois não lhes passa pela cabeça que um ser humano pode ser maior ou menor do que o outro em termos de valor intrínseco – aliás, nem imaginam que exista ou o que seja esse tal de “valor intrínseco”.


          A exortação de Jesus aos seus discípulos sublinha exatamente esses traços próprios das crianças: o absoluto despojamento das disputas de poder e a absoluta ignorância a respeito das hierarquias que separam os seres humanos uns dos outros, e promovem toda sorte de guerras e conflitos, que somente se justificam pela vaidade e o orgulho dos egos que pretendem se afirmar às custas da diminuição e destruição dos demais.


         Como seria o mundo se todos tivessemos o coração das crianças? Teríamos breves desentendimentos, logo seguidos de um enxugar de lágrimas e a correria reiniciada rumo à próxima brincadeira. Haveria mais cooperação e menos competição, mais perdão e menos ressentimento e ódio, mais partilha e menos acúmulo, mais brincadeira e menos agressões, mais amores e menores dores. O rabino Harold Kushner disse que as crianças perdoam rápido, e se reconciliam na velocidade da luz, pois “preferem ser felizes a ter razão”. São simples, e humildes, não se constrangem com vitórias e derrotas, pois não competem, apenas brincam. Não estão no jogo de “quem é o maior e quem é o menor”.


           O Reino de Deus é um reino para gente com coracão de criança. Todo mundo brincando de roda, cada um segurando na mão do outro, sem restrição para quem chegar, apoteose da fraternidade universal, sob a benção do Pai, do Filho e do Espírito Santo, numa santa e bendita folia. Coisa de criança.


Por Ed René Kivitz (http://edrenekivitz.com)

O dilema de Jó e o sofrimento do inocente

         


          O livro de Jó é um clássico sobre o sofrimento humano. Há quem diga que Jó foi uma personagem fictícia. Porém, sua história é citada no Novo Testamento, de forma clara, por Tiago. Vemos que Jó era homem justo ("Na terra de Uz vivia um homem chamado Jó. Era homem íntegro e justo; temia a Deus e evitava o mal."[Jó 1:1]).  O próprio Deus reconheceu a integridade de Jó: "Disse então o Senhor a Satanás: 'Reparou meu servo Jó? Não há ninguém na terra como ele, irrepreensível, íntegro, homem que teme a Deus e evita o mal'" (Jó 1:8).
         

          Interessante que os amigos de Jó, ao vê-lo em meio ao sofrimento, resolveram consolá-lo. Enquanto se limitaram a chorar com ele, tudo estava bem. A atitude foi louvável! O problema foi o que veio depois. Como a teologia da época pregava a justiça retributiva, os amigos de Jó não viram outra explicação para seu sofrimento, senão os seus próprios pecados!


          Pior do que a tragédia é a tentatva de explicá-la! É bem verdade que há problemas na vida que são consequências de nossas atitudes. São apenas a colheita do que plantamos. Mas não podemos nos esquecer do imponderável, dos males aleatórios que acometem a alguns, independentemente de cultura, gênero, classe social, etnia e religião. Não sabemos explicar o porquê, nem sabemos por que acontecem com uns e, não, com outros.


          Não bastasse a dor de ter de sepultar seus filhos e de ter perdido seus bens materiais, Jó ainda teve de sofrer mais um toque de Satanás, pois quando este percebeu a sua persistência, sugeriu a Deus que a blasfêmia acorreria se sua saúde fosse abalada: " 'Pele por pele!' , respondeu Satanás. 'Um homem dará tudo o que tem por sua vida. Estende a tua mão e fere a sua carne e os seus ossos, e com certeza ele te amaldiçoará na tua face.' " (Jó 2:4-5)


          Após as infelizes tentativas de explicação dos amigos de Jó, ele insiste em dizer que não é o culpado pelos seus próprios males. E, logo depois, deseja encontrar-se com Deus para obter respostas para a sua tragédia. Jó pedia a Deus que lhe pesasse em balança justa, pois sabia que estava livre de culpa. É preciso que um homem seja mesmo muito íntegro para ter coragem de fazer esse pedido a Deus! Eu é que não quero ser pesado em balança "justa". Minha consciência não é tão limpa assim... Quero ser pesado em balança de misericórdia! Com o peso pendente pro meu lado, é claro!


          Impressionante é que Deus responde a Jó do meio da tempestade: "Então o Senhor respondeu a Jó do meio da tempestade. Disse ele: 'Quem é esse que obscurece o meu conselho com palavras sem conhecimento? Prepare-se como simples homem; vou fazer-lhe perguntas, e você me responderá. Onde você estava quando lancei os alicerces da terra? Responda-me, se é que você sabe tanto.' " (Jó 38:1-4) 


         Deus faz dezenas de perguntas a Jó e ele não consegue responder a nenhuma delas! Ele mostra a Jó que o conhecimento humano é limitado demais para compreender as razões de tudo o que acontece na vida. E o mais belo de tudo é que a sorte de Jó foi restaurada quando ele orou pedindo o perdão para seus amigos por eles terem falado o que não deviam a respeito de Deus. Jó orou por eles seguindo orientação do próprio Criador.


         No dia mau, no meio do caos, na hora da tragédia, o que precisamos não é de respostas sobre a causa de tamanha dor. Nós precisamos mesmo é de pessoas ao nosso lado. Deus incentivou a comunhão de Jó com os amigos que inicialmente tinham ido consolá-lo, mas acabaram acusando-no, mandando que Jó orasse por eles. Quando algum amigo vier trazer respostas para a causa do seu sofrimento, veja se ele pode responder as perguntas que Deus fez a Jó! Se não puder, a companhia dele é o melhor que se pode ter.

Quando três amigos de Jó: Elifaz, Bildade e Zofar souberam de todos os males que o haviam atingido, saíram, cada um da sua região, e combinaram encontrar-se para mostrar solidariedade a Jó e consolá-lo. Quando o viram à distância, mal puderam reconhecê-lo e começaram a chorar em alta voz. Cada um deles rasgou o manto e colocou terra sobre a cabeça. Depois se assentaram no chão com ele, durante sete dias e sete noites. Ninguém lhe disse uma palavra, pois viam como era grande o seu sofrimento. (Jó 2:11-13)

          Melhor mesmo é que, quando percebermos alguém em meio a muitas dores, nos limitemos a estar presente, e chorar com esse alguém, como fizeram inicialmente os amigos de Jó. A demonstração de solidariedade é o máximo que podemos oferecer e receber em meio ao sofrimento.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

O verdadeiro ímpio

                                

"Bem aventurado o homem que não anda segundo os conselhos dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores , nem se assenta na roda dos escarnecedores." (Salmo 1:1)

Esse salmo é um dos preferidos dos religiosos. Muita gente obrigava crianças a decorar essa porção da Escritura. Na mente tacanha de alguns, o ímpio é aquele que não frequenta a "igreja". É qualquer um que não confesse a mesma fé. Os pecadores e escarnecedores, para eles, são aqueles que fazem uma rodinha e gargalham, tomam cerveja, fazem bagunça e coisas parecidas...

A pergunta que temos de fazer diante desse texto, na verdade, não é o que o salmista pensou quando escreveu esse texto e, sim, o que Jesus tem a dizer sobre o assunto e como ele encarnou a Palavra de Deus. Pois afinal, "o verbo se fez carne". Isso quer dizer que Jesus é a encarnação de tudo aquilo que se verbalizou sobre Deus até então.

Olhando para o sentido etimológico da palavra, ímpio é aquele que não é "pio", ou seja, que não tem piedade. E a piedade tem sua maior manifestação na misericórdia, na compaixão. Nada tem a ver com a nossa interpretação simplória de piedade como "esforço religioso de se comportar adequadamente".

Quando olhamos para esse salmo com a perspectiva de Jesus, vemos que ímpio é aquele que não tem espaço para a misericórdia em seu coração. É o sujeito que começou a achar que sabe das coisas e começa a olhar os outros de cima para baixo, com aquele olhar de condenação! Basta ver como Jesus tratou as pessoas enquanto esteve na Palestina.

Jesus andou com com todo tipo de gente! Os mais "mal falados" de sua época! Mas Ele não andava junto aos fariseus. Justamente os mais religiosos de seu tempo. Os mais "justos" aos olhos da sociedade. A "roda dos escarnecedores" naquela época era principalmente o próprio templo! Ali é que as pessoas escarneciam de Deus, enganando os outros em nome do Eterno! É só perceber que Jesus andou com ladrões e prostitutas, mas não se misturava com os religiosos hipócritas!

Ímpio mesmo é aquele que sutilmente nos envenena com mil disfarces. É aquele que, em seu conselho só carrega juízo contra os outros! Não há misericórdia nele. O pecador para Jesus é aquele que não é capaz de se enxergar como tal. Basta ler a parábola do fariseu e do publicano!

Ímpio mesmo é aquele que vive com o dedo em riste apontando os pecados dos outros e vivendo para ditar normas na vida das pessoas.

Jesus é a síntese de toda a Escritura! É sob o ponto de vista dele que devemos nos colocar... Amém!

sábado, 14 de julho de 2012

O Alce e o Lobo




A água do lago estava tão limpa que parecia um espelho. Todos os animais que foram beber água viram suas imagens refletidas no lago. O urso e seu filhote pararam admirados e foram embora.

 O alce continuou admirando a sua imagem:

- Mas que bela cabeça eu tenho.

 De repente, observando as próprias pernas, ficou desapontado e disse:

 - Nunca tinha reparado, nas minhas pernas. Como são feias! Elas estragam toda a minha beleza!

 Enquanto examinava sua imagem refletida no lago, o alce não percebera a aproximação de um bando de lobos que afugentara todos os seus companheiros.

Quando finalmente se deu conta do perigo, o alce correu assustado para o mato. Mas, enquanto corria, seus chifres se embaraçavam nos galhos, deixando-o quase ao alcance dos lobos. Por fim o alce conseguiu escapar dos perseguidores, graças às suas pernas, finas e ligeiras.

Ao perceber que já estava a salvo, o alce exclamou aliviado:

 - Que susto! Os meus chifres são lindos, mas quase me fizeram morrer! Ah, se não fossem as minhas pernas!

Moral da história: Não devemos valorizar só o que é bonito, temos que valorizar o que é útil também.

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Nota editorial UBE Blogs:

"E fez Deus as feras da terra conforme a sua espécie, e o gado conforme a sua espécie, e todo o réptil da terra conforme a sua espécie; e viu Deus que era bom." -  Gênesis 1.25. 

Tudo fez formoso em seu tempo;
Eclesiastes 3:11
Tudo fez formoso em seu tempo;
Eclesiastes 3:11
do fez formoso em seu tempo;
Eclesiastes 3:11
"Tudo fez Deus formoso em seu tempo..." - Eclesistes 3.11.


Autoria desconhecida. Postado originalmente no blog Belverede.



quarta-feira, 4 de julho de 2012

A maior evidência da presença de Deus



            Uma das mais extraordinárias compreensões sobre o evento do derramamento do Espírito Santo no dia de Pentecostes, narrado no livro de Atos dos Apóstolos, é a de que tal evento é a reversão do que ocorreu na Torre de Babel.

            Na Torre de Babel, o homem queria afirmar seu nome acima do nome de Deus. E, por isso, houve confusão de línguas, de forma que os que ali estavam não se entendiam mais. Cada um passou a falar uma língua diferente. A vaidade, prepotência e egocentrismo resultam nisso: ninguém se entende. Pois assumimos a condição de egos absolutos.

         Quando reunimos um bando de egos absolutos, formamos uma multidão de egoístas, que se acotovela em busca da satisfação pessoal.

          No Pentecostes, ocorre o contrário. Mesmo falando idiomas diferentes, cada um entendia tudo o que se falava, como se estivesse sendo dito na sua própria língua! Os homens são movidos pelo Espírito de Deus e voltam a se entender. A multidão de indivíduos se transforma em comunidade.

           Na multidão daqueles que creram, uma era a mente e um era o coração! Quando o Espírito Santo é derramado sobre nós, nós deixamos de ser uma multidão violenta e egoísta e passamos a ser uma comunidade de partilha. Convertemo-nos não só a Deus, mas, necessariamente, ao próximo.

        A grande evidência da presença de Deus entre nós é a conversão do nosso coração ao próximo. Por isso o fruto do Espírito é amor, paz, alegria, mansidão, fidelidade, domínio próprio, paciência, bondade, benignidade.

        Isto é, o que Deus gera em nós é a capacidade de conviver com o outro, de etnia diferente, de classe social diferente, de cultura diferente, de ideias diferentes, de temperamento diferente, e, ainda assim, manifestar o amor de Deus na vida dessas pessoas diferentes.

         Que possamos aprender a abrir mão de nossos direitos e prerrogativas em prol do outro. Amém!


sexta-feira, 6 de abril de 2012

Uma Igreja relevante

            

           Em que pese o querer de alguns religiosos mais conservadores, vivemos tempos em que as pessoas precisam enxergar sentido naquilo que fazem. Tão logo tenham chegado à idade das próprias escolhas, jovens e adolescentes têm abandonado suas comunidades locais por não encontrar motivos coerentes para estar lá.

      O discurso convencional já não satisfaz. Métodos obsoletos já não agradam. O excesso de tradicionalismo, ou o culto à própria personalidade do líder, já não sacia a alma dos meninos e meninas que vivem lutas constantes e complexas - interiores e exteriores -  no seu dia-a-dia.

         Precisamos de um Igreja que nos proponha possíveis respostas para as nossas perguntas reais e concretas de hoje! Não importa muito se os encontros serão no templo, nas casas, nas lanchonetes, nos parques ou em qualquer outro lugar.

           As perguntas de hoje não são as mesmas de 50 anos atrás. Por isso o discurso e as respostas não podem ser as mesmas. Pois, do contrário, a fala do pregador seria mais para as paredes do que para os seus ouvintes. Precisamos de urgente contextualização com as angústias das novas gerações. Nossos anseios são semelhantes ao de Agostinho, quando diz:

            "Vou beber dessa fonte e por ela encontrar minha vida autêntica."

           Queremos beber da fonte de águas vivas! Queremos que nossa fé faça sentido em meio ao mundo caótico em que vivemos, para que nossas vidas tenham sentido. E para isso, precisamos rever nossos conceitos sobre o que seria "manter as raízes do Evangelho". Pois é possível que, misturados à sã doutrina, estejam conceitos criados para atender a moralismos e formalismos totalmente ultrapassados.

           Em determinadas igrejas, raramente o sermão expõe a Bíblia, pois quase sempre começa com um versículo e acaba tratando do que pode e do que não pode. Alguns ficariam estarrecidos com o número de pessoas que sai pela porta dos fundos de suas igrejas, rejeitando e odiando o cristianismo, devido a esse rigor legalista sobre usos e costumes. (É proibido. O que a Bíblia permite e a igreja proíbe. GONDIM, Ricardo. São Paulo, Mundo Cristão. p4)        

         Precisamos enxergar que não estamos no Fantástico Mundo dos Crentes e que devemos discutir questões atuais, que realmente interessam aos mais jovens, sob pena de ver nossas congregações se esvaziarem desse público, que tem sofrido com a engessada sistemática de algumas lideranças.

             Jesus nos ensinou que a relevância de sua vida, morte e ressurreição seria percebida somente se os seus seguidores vivessem a radicalidade de seu amor e encarnassem seu estilo de vida: "Um novo mandamento vos dou: Amem-se uns aos outros. Como eu vos amei, vocês devem amar-se uns aos outros. Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos, se vocês se amarem uns aos outros... (...) (João 13:33,34) [Ed René Kivitz]

        Que Deus nos dê paciência, sabedoria e, sobretudo, o amor, para que possamos conviver em harmonia uns com os outros e aprender a ser uma Igreja relevante, num mundo de gente sedenta por Deus e por respostas que, somente Nele, podem ser encontradas. Amém!

sexta-feira, 30 de março de 2012

Os perigos da religião



              A experiência religiosa é uma faca de dois gumes. Ao mesmo tempo em que conforta e nos faz infinitamente melhores, também pode fazer com que o religioso comece a se enxergar como um ser humano acima da média. E acabar pensando que os outros, que não pertencem à sua religião, são maus. Eis aí a grande armadilha!

              Essa semana uma professora foi acusada de incentivar o bulling religioso na sala de aula. A educadora tinha o hábito de orar junto com a turma durante suas aulas. Não demorou muito para que um dos alunos, praticante do candomblé, recusasse-se a participar daqueles momentos. Os alunos então passaram a perseguir o colega sob a acusação de ser "macumbeiro".

              Ser luz para o mundo nada tem a ver com distribuir panfletos no trabalho ou fazer orações com os funcionários de uma empresa. A fé cristã não incentiva ninguém a constranger pessoas que não compartilhem da mesma espiritualidade.

           Demonstrar o caráter de Cristo tem a ver com atitudes, principalmente atitudes que fazem o bem aos outros. Se isso acontecer, você nem precisará falar sobre sua religião, pois o amor vai ficar explícito na sua vida e as pessoas vão dizer: "- Eis aí um cristão".

É por isso que o Apóstolo Paulo disse o seguinte:

           "O que dizer de você? Você diz que é judeu, confia na Lei e se orgulha do Deus que você adora. Você sabe o que Deus quer que você faça e aprende na Lei a escolher o que é certo. Você tem a certeza de que é guia dos cegos, luz para os que estão na escuridão, orientador dos que não têm instrução e professor dos jovens...Você se orgulha de ter a LEi de Deus, mas você é uma vergonha para Deus porque desobedece sua LEi. Pois as Escrituras Sagradas dizem: "Os não-judeus falam mau de Deus por causa de vocês, os judeus" (Rm 2:17-24)

         O texto foi escrito para falar aos judeus, mas cabe perfeitamente no contexto dos cristãos contemporâneos. Nos esquecemos de que todos nós somos filhos de Adão. A natureza do cristão é idêntica à do umbandista. Partimos do mesmo ponto. E não há razões para que nos sintamos melhores, mais justos ou mais puros do que os outros, pois do contrário, seríamos como aquele fariseu que se orgulhou de não ser pecador como o publicano, dizendo: "Eu te agradeço por não ser imoral como as outras pessoas" (Lc 18:9-14). Todos somos culpados (Rm 3:9-20)

          Que Deus nos perdoe a arrogância e transborde nosso coração de amor por todos os nossos semelhantes, sejam eles do candomblé, da umbanda, do espiritismo, do budismo, do hinduísmo e de todos os outros "ismos" que possam existir. Afinal, somos pó. E a graça e as misericórdias do Senhor são a razão de não sermos consumidos!

terça-feira, 13 de março de 2012

Missionários do dia-a-dia



        Nesse fim de semana minha comunidade local recebeu uma missionária que trabalha no Senegal. É impressionante como Deus chama e capacita jovens que deixam vários projetos de vida para trás em busca de evangelizar os chamados "povos não alcançados". Glória a Deus por isso! São povos que carecem de cuidados básicos como saúde, educação, moradia, etc. Fico muito feliz que haja pessoas vocacionadas para estar em meio aos necessitados de outras nações!

           Nos últimos anos, porém, fui despertado para enxergar também o fato de que a missão da igreja não é apenas transcultural, ou seja, não precisa envolver o cruzamento de fronteiras geográficas. Nós, cristãos, precisamos resgatar o conceito de vocação. Afinal a agenda do Reino de Deus não é feita somente de atividades religiosas.

       O texto de Mateus 25:31-46 nos lança luz sobre um tema um tanto relegado: a necessidade da expressão concreta do amor de Deus por parte dos discípulos de Jesus. No texto supracitado, Jesus diz que os que vão entrar no Reino são aqueles que deram de comer a quem tem fome, deram de beber a quem tem sede, vestiram aos que estavam necessitados de roupas, etc.

           Nossa vocação principal é estar infiltrado na sociedade como agentes do Reino. Portanto, precisamos incentivar nossos adolescentes a serem "pastores" dentro de uma sala de aula, de um escritório de advocacia, de uma empresa de informática. Pois o Reino de Deus é muito maior do que a nossa igreja local. Devemos ser instrumento de Deus, sendo fisioterapeuta, psicólogo, gari, motorista de ônibus. Esses são missionários anônimos do cotidiano.

          Chegou a hora de entender que é preciso desenvolver o caráter de Cristo para estar no mundo do trabalho influenciando pessoas através do amor concreto. Nossa missão deve ser servir. E servir em tempo integral, sem precisar deixar sua carreira secular. Por que a questão toda é o que estamos fazendo na segunda-feira, porque no domingo, está tudo em paz!

          "A igreja existe para equipar e mobilizar homens e mulheres para a missão de Deus no mundo." (C. René Padilla)

              A missão precisa ser feita de forma integral, ou seja, não basta a mera comunicação oral. É preciso ter atitudes práticas. Qual foi o problema do rico, na parábola de Lázaro? Justamente a indiferença diante do sofrimento do necessitado. A maldade estava diante dos seus olhos e ele não se levantou contra ela. A bondade do Pai não estava nele suficientemente arraigada para que ele manifestasse o bem, a misericórdia, a justiça, o amor. Portanto não há "Deus" nele. E por isso seu lugar foi a perdição eterna.

             Nossas igrejas precisam formar gente para viver em meio às trevas do nosso próprio bairro e continuar sendo luz. Que seja essa a nossa preocupação: viver de forma a transbordar a luz de Cristo em qualquer ambiente que vivamos, nos importando com o próximo. Isso é missão. Essa é a forma de vivê-la de forma integral. Se assim fizermos, ouviremos naquele grande dia: "Vinde benditos de meu Pai! Possuí por herança o Reino que vos tenho preparado desde a fundação do mundo..."

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

A privatização do Divino



             Quem pertence a uma religião acaba correndo o risco de passar a achar que a sua compreensão do divino é a única correta. A única possível. Isso implica grande perigo. Quando confundimos o Jesus do século primeiro com o Jesus neoevangélico, por exemplo, incorremos numa grave distorção.

             "O Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça" (Mt 8:20). Isso foi o que Jesus disse. O Filho do Deus vivo não fez para si ao menos uma cadeira, apesar de ser carpinteiro... Será que é possível imaginar esse Jesus numa igreja evangélica hoje? Se ele declarasse que não tem onde reclinar a cabeça, seria repreendido pelo "apóstolo". E pior: seria repreendido em nome de Jesus!

              Afinal, o que é isso, Jesus? Teu Pai te pôs como cabeça e, não, como cauda... Você é filho do Rei e está aqui para "comer o melhor dessa terra". Jesus seria discipulado por alguém que lhe diria que Ele precisa deixar de pensar pequeno. Pois "Deus tem grandes bênçãos para os seus". Que mal há em querer ter casa de praia, carro do ano, fazer viagens a Europa, ser chefe, dono de empresa?

              Infelizmente há muita gente que se apropria de bordões gospel e pensa que isso é ser cristão. Como se chamar aos outros de "abençoados" ou "varão", demonstrasse a "santidade" do indivíduo... Tenho muita dificuldade de lidar com gente que tenta provar pra todo mundo sua espiritualidade "acima da média".

           É triste constatar isso. Mas parece que se Jesus tivesse vindo ao mundo nos nossos dias, Ele não seria um "bom evangélico"...

            Aliás, muita gente precisa enxergar que a sua versão do Evangelho é apenas uma versão. Não é a única e, portanto, não é, necessariamente, a melhor. Por isso o Criador pode não ter a forma que atribuímos a Ele. Por isso não se pode privatizar a Deus. Ele está muito acima de todas as características que podemos atribuir a Ele.
               

sábado, 11 de fevereiro de 2012

O complexo de Marta


         
         É interessante como as passagens registradas ao longo das Escrituras refletem muito daquilo que somos enquanto seres humanos. O Evangelho nos relata uma das visitas de Jesus á casa de Marta e Maria, irmãs de Lázaro (Lc 10:40). Marta recebeu Jesus em sua casa, mas ficou muito ocupada com todo o trabalho da casa. Enquanto isso, Maria, a sua irmã, ficou sentada aos pés de Jesus ouvindo o que ele ensinava.

        Marta vendo isso, perguntou a Jesus: - O senhor não se importa que a minha irmã me deixe sozinha com todo este trabalho? Mande que ela venha me ajudar! Mas Jesus respondeu: - Marta, Marta, você está agitada e preocupada com muitas coisas, mas apenas uma é necessária! Maria escolheu a melhor de todas, e esta ninguém vai tomar dela.

        É nítido que Marta tinha enorme amor por Cristo! Ela o recebeu em seu lar, o tratou muito bem e estava preocupada em fazer o melhor para Ele. Ela queria oferecer a Jesus o máximo que lhe era possível. Já Maria, do seu jeito, também O amava muito. E preferiu absorver o máximo de conhecimento espiritual oferecido por Jesus.

         São duas condutas diferentes. Mas perceba que ambas as irmãs amam Jesus. Mas cada uma delas tinha uma visão diferente a cerca do que fazer para expressar seu amor. Uma queria muito agradá-lo. A outra queria ficar aos pés do próprio Deus encarnado, aprendendo tudo o que fosse possível e desfrutando de sua divina companhia.

       Será que temos dado prioridade àquilo que realmente importa? É muito bom agradar a Deus com nossos afazeres, com as coisas que supostamente fazemos "para Ele". Mas o próprio Cristo nos ensina que aprender com Ele, ter comunhão, dar atenção à dimensão espiritual, sempre será mais importante do que fazer coisas "para ele".

      Muitas pessoas estão discutindo, agredindo e ofendendo seus irmãos por causa das coisas que pretendem fazer "para Deus". Costumo chamar isso de ativismo religioso. Há muita gente ativista nas comunidades cristãs. Gente com a melhor das intenções. Mas que deixam de lado a parte mais importante em prol das atividades religiosas do templo.

        Mais um congresso, mais uma reunião, mais uma assembleia, mais um culto. Tudo isso tem o seu valor. Mas não pode suplantar o mais importante: estar aos pés de Jesus. E muitas vezes, para ficarmos aos pés de Jesus, em comunhão com Ele, precisamos abrir mão de fazer as tarefas que supostamente são feitas para Ele.

         Pode ser que ficar aos pés de Jesus, signifique acudir alguém em detrimento, inclusive, de comparecer a alguma atividade da igreja. Pois pessoas sempre serão mais importantes do que as tarefas, conforme nosso próprio Pai Celestial nos ensina...

sábado, 14 de janeiro de 2012

Essa tal felicidade

           

          Você já parou para pensar que é impossível encontrar felicidade sem haver amor? As relações de amor fazem com que nós nos sintamos plenos, completos! E relações de amor não podem ser encontradas sem que haja pessoas, pois relacionamentos só podem existir se houver pessoas!

       Não por acaso o nosso Deus é triúno! O mesmo Deus é Pai, Filho e Espírito Santo! Isso é extraordinário, porque o nosso Deus, em si mesmo, é pleno em sua relação de afeto. É uma eterna comunhão de amor, onde o Pai ama o Filho, o Espírito ama o Pai, o Filho ama o Pai e o Espírito, e por aí vai...

           Parece que o Eterno, em si mesmo, já nos demonstra que a plenitude da existência se encontra nos relacionamentos! É por isso que você jamais conhecerá um egoísta que seja feliz!

              "O coração do homem tem um vazio do tamanho de Deus." (Dostoiévski).

             Somente Deus é capaz de preencher o eterno vazio do nosso coração. Não é a casa nova, não é o carro novo, não é a faculdade. E acontece, meus amigos, que na nossa experiência humana, concreta, Deus é encontrado na face do outro. Deus é "concretizado" através dos nossos relacionamentos. Pois "ninguém jamais viu a Deus; se nós amamos uns aos outros, Deus está em nós, e em nós é perfeito o seu amor" (I Jo 4:12).

           Segundo a cosmologia da Escritura Sagrada, é IMPOSSÍVEL alguém se aproximar de Deus, sem que se aproxime das pessoas. Porque "Se alguém diz: 'Eu amo a Deus', mas odeia seu irmão, é mentiroso. Pois ninguém pode amar a Deus, a quem não vê, se não amar ao seu irmão, a quem vê." (I Jo 4:20).

        Portanto, a experiência com Deus é vivida através das relações de amor. E ninguém desenvolve relações de amor num quarto isolado, nem apenas com livros abertos em torno de si, muito menos se enfastiando de atividades eclesiásticas e rituais religiosos.

         Sendo assim, se alguém quer "mais de Deus", que aprenda a querer mais do seu próximo... É assim que se alcança essa tal felicidade. Abrindo mão de nosso egocentrismo e vivendo em prol do outro. Só assim ficamos livres da escravidão de ter de servir ao nosso próprio ego.

           Amém!