A palavra aramaica "Abba" - que significa papai - expressa muito bem quem é o verdadeiro Deus dos cristãos: Aquele que quer se relacionar conosco como o nosso Papai, o Deus que é amor incondicional...





sábado, 30 de outubro de 2010

O analfabeto e o sujeito que não gosta de ler



                Que vantagem tem o sujeito que não gosta de ler e, de fato, quase não lê, sobre o analfabeto? Ele está habilitado a ter acesso a informações infinitas, mas não o faz porque não quer, não gosta. Enquanto o analfabeto, em tese, não pode.
               
                O sujeito que não gosta de ler pode perder oportunidades incríveis por não praticar a leitura. Deixa de adquirir conhecimento e de enxergar o mundo com outros olhos. Deixa de desenvolver seu raciocínio e de abrir portas que poderiam fazer toda a diferença.

                Assim é também com aqueles que acreditam em Deus mas não o buscam. De que vale saber que existe um soberano, criador do céu e da Terra, e até admirar quem o segue, se você é incapaz de se ajoelhar diante dele? De que vale saber que Ele se comunica conosco através da sua Palavra e até respeitar a Bíblia Sagrada se você não a lê e não a compreende?

               Quem faz assim pode até dizer que crê em Deus, mas suas ações demonstram um ateísmo prático. Você acredita nele mas vive como se Ele não existisse, como se não fizesse diferença alguma. Aquele que crê em Cristo não só acredita que Ele existe, mas se submete a sua vontade. Que possamos entender que é necessário nos submetermos à vontade de Deus. E que consultemos a Bíblia e oremos constantemente para sabermos qual é essa vontade.

                Somente assim a fé em Deus e em Jesus Cristo fará sentido. Não basta dizer que sabe ler, é preciso praticar a leitura. Não basta dizer que crê em Deus, é preciso se submeter a Ele. Segui-lo e buscá-lo como ao ar que respiramos!

                Deus nos abençoe!

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Deus e a pessoa jurídica


              No mundo jurídico sempre há discussões envolvendo as pessoas jurídicas. Uma das questões envolve a possibilidade de ela poder cometer um crime. Pessoas jurídicas são pessoas criadas pela vontade dos homens. Segundo o dicionário Michaelis, são entidades abstratas. São uma ficção. A pessoa jurídica não existe, de fato. Mas nos é útil e indispensável em muitos casos.
            
              Nos dias mais terríveis, naqueles em que chegamos a achar que não há saída lógica e que somente uma intervenção sobrenatural de Deus poderia nos ajudar, muitos de nós encontramos o mistério da presença real de Deus em nossas vidas. É quando o difícil se torna impossível que passamos a entender que Ele não é um mero delírio.

              Muitos tratam a Deus como uma pessoa jurídica. Em muitos momentos, inconscientemente, eu também fiz assim. Talvez muitos pensemos que Ele é uma ficção, criada pelos homens para que tenham algum conforto espiritual. É como se Ele não existisse de fato, como se fosse uma fantasia que nos é útil em alguns momentos. Há quem diga, inclusive, que a fé é para os fracos.

              Mas somente em momentos extremos a maioria de nós consegue sentir que Deus é bem diferente das pessoas jurídicas. Ele existe antes da fundação do mundo, é eterno e é real, de verdade. Assim como as pessoas jurídicas, em geral, Ele também é formado pela união de algumas pessoas - Pai, Filho e Espírito Santo - mas, apesar disto, é um único Deus e nos conduz e sustenta a cada dia.

              Quem confia em seus próprios méritos e nas suas próprias virtudes é que vive no mundo da ilusão, numa dimensão surreal e fictícia. Quando as tragédias nos alcançam temos a oportunidade de enxergarmos que somos pó. Dependemos de Deus para existir, e não o contrário. Ele é o Criador e não criatura nossa. Deus é Espírito, mas não é abstrato, muito menos ficção. Quando vemos o que Ele é capaz de fazer, na prática, podemos fazer a mesma afirmação de Jó: "Antes eu Te conhecia de ouvir falar, mas agora os meus olhos Te vêem"

sábado, 16 de outubro de 2010

Sem perdão não existe amanhã


                  Alguém já disse que a família é o lugar dos maiores amores e dos maiores ódios. Compreensível: quem mais tem capacidade de amar, mais tem capacidade de ferir. A mão que afaga é aquela de quem ninguém se protege, e quando agride, causa dores na alma, pois toca o ponto mais profundo de nossas estruturas afetivas. Isso vale não apenas para a família nuclear: pais e filhos, mas também para as relações de amizade e parceria conjugal, por exemplo.

                 Em mais de vinte anos de experiência pastoral observei que poucos sofrimentos se comparam às dores próprias de relacionamentos afetivos feridos pela maldade e crueldade consciente ou inconsciente. Os males causados pelas pessoas que amamos e acreditamos que também nos amam são quase insuperáveis. O sofrimento resultado das fatalidades são acolhidos como vindos de forças cegas, aleatórias e inevitáveis. Mas a traição do cônjuge, a opressão dos pais, a ingratidão dos filhos, a rixa entre irmãos, nos chegam dos lugares menos esperados: justamente no ninho onde deveríamos estar protegidos se esconde a peçonha letal.

            Poucas são minhas conclusões, mas enxerguei pelo menos três aspectos dessa infeliz realidade das dores do amar e ser amado. Primeiro, percebo que a consciência da mágoa e do ressentimento nos chega inesperada, de súbito, como que vindo pronta, completa, de algum lugar. Mas quando chega nos permite enxergar uma longa história de conflitos, mal entendidos, agressões veladas, palavras e comentários infelizes, atos e atitudes danosos, que foram minando a alegria da convivência, criando ambientes de estranhamento e tensões, e promovendo distâncias abissais.

         Quando nos percebemos longe das pessoas que amamos é que nos damos conta dos passos necessários para que a trilha do ressentimento fosse percorrida: um passo de cada vez, muitos deles pequenos e que na ocasião foram considerados irrelevantes, mas somados explicam as feridas profundas dos corações.

         Outro aspecto das dores do amar e ser amado está no paradoxo das razões de cada uma das partes. Acostumados a pensar em termos da lógica cartesiana: 1 + 1 = 2 e B vem depois de A e antes de C, nos esquecemos que a vida não se encaixa nos padrões de causa e efeito do mundo das ciências exatas. Pessoas não são máquinas, emoções e sentimentos não são números, relacionamentos não são engrenagens.

        Imaginar que as relações afetivas podem ser enquadradas na simplicidade dos conceitos certo e errado, verdade e mentira, preto e branco é uma ingenuidade. A vida é zona cinzenta, pessoas podem estar certas e erradas ao mesmo tempo, cada uma com sua razão, e a verdade de um pode ser a mentira do outro. Os sábios ensinam que “todo ponto de vista é a vista de um ponto”, e considerando que cada pessoa tem seu ponto, as cores de cada vista serão sempre ou quase sempre diferentes. Isso me leva ao terceiro aspecto.

          Justamente porque as feridas dos corações resultam de uma longa história, lida de maneiras diferentes pelas pessoas envolvidas, o exercício de passar a limpo cada passo da jornada me parece inadequado para a reconciliação. Voltar no tempo para identificar os momentos cruciais da caminhada, o que é importante para um e para outro, fazer a análise das razões de cada um, buscar acordo, pedir e outorgar perdão ponto por ponto não me parece ser a melhor estratégia para a reaproximação dos corações e cura das almas.

           Estou ciente das propostas terapêuticas, especialmente aquelas que sugerem a necessidade de re–significar a história e seus momentos específicos: voltar nos eventos traumáticos e dar a eles novos sentidos. Creio também na cura pela fala. Admito que a tomada de consciência e a possibilidade de uma nova consciência produzem libertações, ou, no mínimo, alívios, que de outra maneira dificilmente nos seriam possíveis. Mas por outro lado posso testemunhar quantas vezes já assisti esse filme, e o final não foi nada feliz.

          Minha conclusão é simples (espero que não simplória): o que faz a diferença para a experiência do perdão não é a qualidade do processo de fazer acordos a respeito dos fatos que determinaram o distanciamento, mas a atitude dos corações que buscam a reaproximação. Em outras palavras, uma coisa é olhar para o passado com a cabeça, cada um buscando convencer o outro de sua razão, e bem diferente é olhar para o outro com o coração amoroso, com o desejo verdadeiro do abraço perdido, independentemente de quem tem ou deixa de ter razão. Abraços criam espaço para acordos, mas acordos nem sempre terminam em abraços.

            Essa foi a experiência entre José e seus irmãos. Depois de longos anos de afastamento e uma triste história de competições explícitas, preferências de pai e mãe, agressões, traições e abandonos, voltam a se encontrar no Egito: a vitima em posição de poder contra seus agressores. José está diante de um dilema: fazer justiça ou abraçar. Deseja abraçar, mas não consegue deixar o passado para trás. Ao tempo em que fala com seus irmãos sai para chorar, e seu desespero é tal que todos no palácio escutam seu pranto.

            Mas ao final se rende: primeiro abraça e depois discute o passado. Essa é a ordem certa. Primeiro, porque os abraços revelam a atitude dos corações, mais preocupados em se aproximar do que em fazer valer seus direitos e razões. Depois, porque, no colo do abraço o passado perde força e as possibilidades de alegrias no futuro da convivência restaurada esvaziam a importância das tristezas desse passado funesto.

            Quando as pessoas decidem colocar suas mágoas sobre a mesa, devem saber que manuseiam nitroglicerina pura. As palavras explodem com muita facilidade, e podem causar mais destruição do que promover restauração. Não são poucos os que se atrevem a resolver conflitos, e no processo criam outros ainda maiores, aprofundam as feridas que tentavam curar, ou mesmo ferem novamente o que estava cicatrizado. Tudo depende do coração. O encontro é ao redor de pessoas ou de problemas? A intenção é a reconciliação entre as pessoas ou a busca de soluções para os problemas? Por exemplo, quando percebo que sua dívida para comigo afastou você de mim, vou ao seu encontro em busca do pagamento da dívida ou da reaproximação afetiva? Nem sempre as duas coisas são possíveis.

           Infelizmente, minha experiência mostra que a maioria das pessoas prefere o ressarcimento da dívida em detrimento do abraço, o que fatalmente resulta em morte: as pessoas morrem umas para as outras e, consequentemente, as relações morrem também. A razão é óbvia: dívidas de amor são impagáveis, e somente o perdão abre os horizontes para o futuro da comunhão. Ficar analisando o caderno onde as dívidas estão anotadas e discutindo o que é justo e injusto, quem prejudicou quem e quando, pode resultar em alguma reparação de justiça, mas isso é inútil – dívidas de amor são impagáveis.

            Mas o perdão tem o dia seguinte. Os que mutuamente se perdoam e se abraçam não são mais capazes de ferir um ao outro. Ainda que desobrigados pelo perdão, farão todo o possível para reparar os danos do caminho. Mas já não buscam justiça. Buscam comunhão. Já não o fazem porque se sentem culpados e querem se justificar para si mesmos ou para quem quer que seja, mas porque se percebem amados e não têm outra alternativa senão retribuir amando.

           As experiências de perdão que não resultam na busca do que é justo desmerecem o perdão e esvaziam sua grandeza e seu poder de curar. Perdoar é diferente de relevar. Perdoar é afirmar o amor sobre a justiça, sem jamais sacrificar o que é justo. O perdão coloca as coisas no lugar. E nos capacita a conviver com algumas coisas que jamais voltarão ao lugar de onde não deveriam ter saído. Sem perdão não existe amanhã.

Por Ed René Kivitz. Um dos maiores teólogos e pensadores cristãos do Brasil.

sábado, 2 de outubro de 2010

O cuidado de Deus

        
 
               Quando o sol se põe e a noite chega, somente Tu és capaz de me guiar. Quando a tempestade me alcança, somente Tu és capaz de ser o meu abrigo. Quando o mar começa a me submergir, somente a Tua mão consegue me trazer à tona para respirar e, ainda, me faz andar sobre as águas.

               Realmente não posso entender os Teus caminhos. Justamente por isso percebo que Tu estás presente na minha vida. É quando toda a lógica parece estar ausente que fica nítido que a Tua presença não é fantasia, não é alucinação, não é alienação, não é burrice, não é fanatismo. O Senhor alivia uma grande dor para que possamos suportar uma outra. Coincidência? Impossível.

               É inacreditável a carga de força que recebemos de Ti nos momentos mais difíceis. São dias em que, apesar de nos sentirmos abandonados em alguns momentos, sentimos o Senhor quase que de forma palpável perto de nós. E toda dúvida se dissipa. Todas as questões e reclamações se dissolvem. Pois sentimos um amor sobrenatural que vem de Ti.

               Quem olha de fora pode enxergar um ingênuo, que mesmo sofrendo tragédias, uma atrás da outra, parece que não vê que está sozinho nesse mundo. Mas agora entendo que a fé precisa de uma dose de falta de lógica mesmo. Parece que os outros gritam: "Amaldiçoa o teu Deus e morre!"... Mas como loucos eles falam... Não Te conhecem. Eu também Te conhecia só de ouvir falar, mas agora os meus olhos te vêem!

               Tens posto as pessoas certas em volta de mim para me sustentar. Tens me oferecido uma grande estrutura de amor e carinho no meio dos escombros da guerra. O Senhor me deu, o Senhor tomou. Bendito seja o nome do Senhor!