A palavra aramaica "Abba" - que significa papai - expressa muito bem quem é o verdadeiro Deus dos cristãos: Aquele que quer se relacionar conosco como o nosso Papai, o Deus que é amor incondicional...





quarta-feira, 3 de agosto de 2011

O céu de Ícaro tem mais poesia que o de Galileu

          

            O cotidiano às vezes nos massacra, não é verdade? Dias vão e vêm e parecem ser iguais. Parece que as coisas continuam sempre do mesmo jeito... Eu, por exemplo, acordo todos os dias às 5:15 h. E lembro de versos de uma música do Kid Abelha: "Quando eu acordo ainda está escuro, eu digo: hoje eu não vou...". Tudo me irrita. E o pior é quando a gente olha para a frente e não consegue ver quando as coisas vão mudar. Paciência.

           Por falar no Kid Abelha, vamos esclarecer alguns aspectos sobre a música secular. Evangelizar nada tem a ver com impor padrões culturais. As Boas Novas do Reino de Deus não pretendem descaracterizar a cultura de povo nenhum. Ser cristão não significa pertencer a uma cultura própria. Jesus nunca desejou isso. Basta ver a oração sacerdotal de João 17, quando ele pediu ao pai que não retirasse as pessoas do mundo, mas que as livrasse do mal. Por isso, Ricardo Gondim já dissertava sobre esse assunto desde a década de 90, em seu livro: "É proibido. O que a Bíblia permite e a igreja proíbe"

          A intenção de Deus não é que formemos guetos culturais, mas que fôssemos sal e luz dentro de nossa própria realidade. A música faz parte da produção cultural de um povo. Assim como não vemos apenas filmes gospel, nem lemos só livros de História escritos por crentes, não me parece obrigatório ter de ouvir apenas música sacra.
O grande desafio para os evangélicos é o de não condenar ou afastar-se da cultura por medo de ceder ao mundanismo. Agindo assim, rechaçamos e subestimamos a cultura e assim passamos a viver em guetos.
Ricardo Gondim
         Por isso prossigo na minha jornada de peregrinação espiritual sem me valer do sectarismo, essa vontade louca de viver isolado do "mundo" que alguns religiosos tentam impor sem uma argumentação consistente. Prefiro sonhar ao som de "Vilarejo" de Marisa Monte, música que segundo um pastor, é a melhor descrição do céu já ouvida por ele. Viajo nos versos dos poetas brasileiros. Carlos Drummond de Andrade, Machado de Assis, Manuel Bandeira e por aí vai. E tento repensar a vida sem aquele peso do dia-a-dia. Por isso de vez em quando solto a imaginação e produzo um quadro. Ou simplesmente rabisco um rosto delicado de mulher num papel.

          Na busca de coisas belas, vou contemplando o céu como Ícaro, mito grego que acabou sofrendo por ser sonhador demais. Diz a lenda que o pai dele teria construído asas com penas de animais e colado com cera das abelhas. Ao se distrair com a beleza do céu, Ícaro aproximou-se demais do sol, o que fez derreter a cera e o derrubou fatalmente no mar. Ainda que seja mais arriscado, vale a pena ver as coisas pelo lado belo da poesia, mais do que pelo lado frio da ciência e do ceticismo. Por isso prefiro o céu de Ícaro ao de Galileu. Mas certamente o fim do jovem que contempla o firmamento imaginando a eternidade será outro. Vida longa ao lado do Criador...
             

Já estou cheio de me sentir vazio

           

         A queixa de Renato Russo, na música "Baader Meinhoff Blues" é a mesma queixa de boa parte da humanidade. As pessoas estão cada vez mais ocupadas. Cada vez mais atarefadas. E tendo relacionamentos cada vez mais superficiais. Os estudiosos chamam isto de utilitarismo. Utilitarismo é o que acontece quando nós nos aproximamos das pessoas já calculando o que elas podem nos oferecer. Achamos que todos os nossos passos têm de ter alguma finalidade. Se pergunta: "O que eu vou ganhar se fizer isso ou aquilo?" Desse jeito, deixamos de lado aquelas amizades espirituais, onde estamos ao lado de pessoas sem motivo algum. Sem interesse. Só porque gostamos delas.

         A sociedade consumista quer sugar tudo o que vê pela frente. Não é raro vermos jovens famosos, ricos e poderosos sendo vítimas de mortes trágicas como a de Amy Winehouse. Mesmo tendo de tudo na vida, aparentemente, essas pessoas tentam suprir o vazio que sentem na alma através do sucesso, da fama, das bebidas, das noitadas, das paixões desenfreadas e principalmente das drogas. Tudo por que dentro de nós há uma espécie de sanguessuga, um bicho come-come que tudo quer traçar e nunca está satisfeito.

           Recentemente os cientistas chegaram à conclusão de que o ser humano possui um espaço no cérebro destinado à fé. Parece que já nascemos com esse lugar reservado para a busca pelo sagrado e pela espiritualidade. Isto explica porque em todas as culturas há crenças religiosas. E explica também por que tanta gente tenta ser feliz depositando suas vidas no carro do ano, na carreira dos sonhos, no grande amor da sua vida, na poupança gorda. O umbigo existencial da humanidade é um poço sem fundo. Somente o Deus eterno pode preencher esse vazio sem fim. Assim, podemos experimentar a paz que excede todo o entendimento, como diz o apóstolo Paulo.

          Quando comecei a ter uma certa intimidade com o Papai, deixei de fazer coro com o Renato Russo, pelo menos nessa frase. Não mais me sinto cheio de estar vazio. Pois aquele vazio foi preenchido pelo amor eterno e agora ainda que haja momentos de fraqueza, tristeza e solidão, estes são breves, pois o que permanece é a sensação de saciedade que Ele me deu.

           Chega de se sentir vazio. É possível se sentir feliz enquanto se corre atrás do futuro. Com ambição de crescer na vida e prosperar, mas de forma saudável e solidária, como Jesus nos ensina.