A palavra aramaica "Abba" - que significa papai - expressa muito bem quem é o verdadeiro Deus dos cristãos: Aquele que quer se relacionar conosco como o nosso Papai, o Deus que é amor incondicional...





quinta-feira, 21 de julho de 2011

Amizade, internet e fones-de-ouvido


               A vida no século XXI tem suas facilidades. Quem conseguiria viver sem internet atualmente? Nos acostumamos a viver conectados o tempo todo. Ainda me lembro de quando minha avó dizia que o fone-de-ouvido era o símbolo do egoísmo. Para ela, o nome do fone era "egoísta". Meu avô, então, ficou assustadíssimo com o advento do celular. Dizia ele que as pessoas estavam surtando por causa do pequeno aparelho, pois andavam pelas ruas gritando e gesticulando sem ninguém ao lado delas.

             Ah! Se meus avós soubessem como as pessoas transmitem informações em tempo real no Orkut, MSN, Twitter, Facebook... Acho que não entenderiam como nós conseguimos compartilhar nossas vidas com tamanha velocidade e sem a menor cerimônia.

           Apesar de tanta tecnologia, espero que nós tenhamos sabedoria para reinventar a cada dia as relações afetivas de qualidade. A comodidade da internet é tão grande que pode ocorrer a tentação do isolamento físico. Pois se eu posso estar em casa conectado a um mundo virtual de bate-papo com dezenas de pessoas ao mesmo tempo, por que deveria sair de casa para visitar um amigo? 
             
             O problema é que uma coisa não substitui a outra. As mensagens de texto, as gargalhadas virtuais do tipo: "kkkkk"; ou "hahuahau"; jamais serão gostosas como aquele abraço fraternal ou a cara avermelhada de quem ri de uma piada contada ao vivo e à cores. O mundo virtual pode ser uma bênção, sim. Na grande rede encontramos amigos que nunca mais veríamos se ela não existisse. O cuidado, porém, é necessário.

             Já reparou que até a fé está cada dia mais dinâmica? A questão é que a linha que separa dinamismo de egocentrismo é muito tênue. Assim como há inúmeros profissionais que já conseguem exercer seus ofícios em casa, hoje existe gente tentando praticar sua fé cristã no conforto de seus lares. Mas apesar de sabermos que o templo não é a "casa de Deus" (“o Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas”. At. 17:24) - faz-se necessário que estejamos sempre em comunhão com os outros. Afinal, como aprender a perdoar e a amar os que nos perseguem se nem temos contato com as pessoas?

      
            Não podemos viver isolados dos outros, reclamando de seus defeitos para justificar nossa tendência egoísta e depois achar que a não participação nos eventos da comunidade não atrapalha a fé. A espiritualidade tem sua face individual, isto é nítido. Mas retire do cristianismo os ajuntamentos para oração, louvor e comunhão e o que sobrará será uma espécie de filosofia ou misticismo, apenas. Por estas razões, mesmo tendo sofrido com atitudes alheias, com decepções com aqueles de quem se esperava um ombro amigo, com as desavenças dentro da própria igreja, prossigo me esforçando para não deixar de congregar com os irmãos. Falhas, também as tenho. E é lutando para superá-las que continuo o caminho rumo ao Reino.

            Sedento por experiências profundas com o sagrado, procuro a verdadeira essência da fé. Minha alma tem pressa. Chega de coisas mesquinhas. Chega de disputas intermináveis por cargos na igreja. Chega de achar que todo mundo tem que ser líder disso ou daquilo. Chega de comportamentos teatrais. Quero ver gente de verdade. Gente que erra e depois ri das besteiras que fez. Quero também sentir a brisa suave do toque do Espírito Santo. E o auge dessa vivência é poder compartilhar a beleza da vida com amigos, principalmente aqueles que são mais chegados que um irmão. Pois estes ficam muito bem guardados: do lado esquerdo do peito.