A palavra aramaica "Abba" - que significa papai - expressa muito bem quem é o verdadeiro Deus dos cristãos: Aquele que quer se relacionar conosco como o nosso Papai, o Deus que é amor incondicional...





terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

A privatização do Divino



             Quem pertence a uma religião acaba correndo o risco de passar a achar que a sua compreensão do divino é a única correta. A única possível. Isso implica grande perigo. Quando confundimos o Jesus do século primeiro com o Jesus neoevangélico, por exemplo, incorremos numa grave distorção.

             "O Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça" (Mt 8:20). Isso foi o que Jesus disse. O Filho do Deus vivo não fez para si ao menos uma cadeira, apesar de ser carpinteiro... Será que é possível imaginar esse Jesus numa igreja evangélica hoje? Se ele declarasse que não tem onde reclinar a cabeça, seria repreendido pelo "apóstolo". E pior: seria repreendido em nome de Jesus!

              Afinal, o que é isso, Jesus? Teu Pai te pôs como cabeça e, não, como cauda... Você é filho do Rei e está aqui para "comer o melhor dessa terra". Jesus seria discipulado por alguém que lhe diria que Ele precisa deixar de pensar pequeno. Pois "Deus tem grandes bênçãos para os seus". Que mal há em querer ter casa de praia, carro do ano, fazer viagens a Europa, ser chefe, dono de empresa?

              Infelizmente há muita gente que se apropria de bordões gospel e pensa que isso é ser cristão. Como se chamar aos outros de "abençoados" ou "varão", demonstrasse a "santidade" do indivíduo... Tenho muita dificuldade de lidar com gente que tenta provar pra todo mundo sua espiritualidade "acima da média".

           É triste constatar isso. Mas parece que se Jesus tivesse vindo ao mundo nos nossos dias, Ele não seria um "bom evangélico"...

            Aliás, muita gente precisa enxergar que a sua versão do Evangelho é apenas uma versão. Não é a única e, portanto, não é, necessariamente, a melhor. Por isso o Criador pode não ter a forma que atribuímos a Ele. Por isso não se pode privatizar a Deus. Ele está muito acima de todas as características que podemos atribuir a Ele.
               

sábado, 11 de fevereiro de 2012

O complexo de Marta


         
         É interessante como as passagens registradas ao longo das Escrituras refletem muito daquilo que somos enquanto seres humanos. O Evangelho nos relata uma das visitas de Jesus á casa de Marta e Maria, irmãs de Lázaro (Lc 10:40). Marta recebeu Jesus em sua casa, mas ficou muito ocupada com todo o trabalho da casa. Enquanto isso, Maria, a sua irmã, ficou sentada aos pés de Jesus ouvindo o que ele ensinava.

        Marta vendo isso, perguntou a Jesus: - O senhor não se importa que a minha irmã me deixe sozinha com todo este trabalho? Mande que ela venha me ajudar! Mas Jesus respondeu: - Marta, Marta, você está agitada e preocupada com muitas coisas, mas apenas uma é necessária! Maria escolheu a melhor de todas, e esta ninguém vai tomar dela.

        É nítido que Marta tinha enorme amor por Cristo! Ela o recebeu em seu lar, o tratou muito bem e estava preocupada em fazer o melhor para Ele. Ela queria oferecer a Jesus o máximo que lhe era possível. Já Maria, do seu jeito, também O amava muito. E preferiu absorver o máximo de conhecimento espiritual oferecido por Jesus.

         São duas condutas diferentes. Mas perceba que ambas as irmãs amam Jesus. Mas cada uma delas tinha uma visão diferente a cerca do que fazer para expressar seu amor. Uma queria muito agradá-lo. A outra queria ficar aos pés do próprio Deus encarnado, aprendendo tudo o que fosse possível e desfrutando de sua divina companhia.

       Será que temos dado prioridade àquilo que realmente importa? É muito bom agradar a Deus com nossos afazeres, com as coisas que supostamente fazemos "para Ele". Mas o próprio Cristo nos ensina que aprender com Ele, ter comunhão, dar atenção à dimensão espiritual, sempre será mais importante do que fazer coisas "para ele".

      Muitas pessoas estão discutindo, agredindo e ofendendo seus irmãos por causa das coisas que pretendem fazer "para Deus". Costumo chamar isso de ativismo religioso. Há muita gente ativista nas comunidades cristãs. Gente com a melhor das intenções. Mas que deixam de lado a parte mais importante em prol das atividades religiosas do templo.

        Mais um congresso, mais uma reunião, mais uma assembleia, mais um culto. Tudo isso tem o seu valor. Mas não pode suplantar o mais importante: estar aos pés de Jesus. E muitas vezes, para ficarmos aos pés de Jesus, em comunhão com Ele, precisamos abrir mão de fazer as tarefas que supostamente são feitas para Ele.

         Pode ser que ficar aos pés de Jesus, signifique acudir alguém em detrimento, inclusive, de comparecer a alguma atividade da igreja. Pois pessoas sempre serão mais importantes do que as tarefas, conforme nosso próprio Pai Celestial nos ensina...