A palavra aramaica "Abba" - que significa papai - expressa muito bem quem é o verdadeiro Deus dos cristãos: Aquele que quer se relacionar conosco como o nosso Papai, o Deus que é amor incondicional...





sábado, 12 de fevereiro de 2011

"Evangélico" e "Discípulo de Jesus" não são sinônimos

              

               É triste perceber que a grande maioria dos ditos cristãos no país não consegue ver que pode haver uma grande diferença entre ser discípulo de Jesus e ser evangélico. Conversando com um colega de trabalho, descobri que ele achava absurda a idéia de que um não-evangélico pudesse ser salvo. E ele não é o único. Faz parte de uma grande massa de pessoas que aprendeu desde pequeno que "fora da igreja evangélica não há salvação".


               Lembro-me que uma vez acabei entrando numa discussão por causa desse assunto. Claro que me arrependi. As pessoas não conseguem enxergar que a Bíblia menciona JESUS como o único caminho e, não, as comunidades evangélicas. Há quem creia sinceramente que os salvos são somente aqueles que levantaram suas mãos e disseram sim a um apelo feito por um pastor. Você já parou para pensar de onde veio o tal clichê "aceitar a Jesus"? Você sabia que nossas práticas "evangélicas" atuais , em sua maioria, são  importadas da cultura norte-americana e até do paganismo e, não necessariamente, extraída das Escrituras?

"Se você acredita que irão para o céu somente as pessoas que aceitam a Jesus como salvador depois de ouvir o evangelho pregado a partir da cultura anglo-americana, então você está em apuros: o seu céu é pequeno demais; o seu Deus é pequeno demais; o seu Cristo é pequeno demais; o seu evangelho é pequeno demais; o seu Espírito Santo é pequeno demais; o seu universo de comunhão é pequeno demais; seu projeto existencial é pequeno demais; sua peregrinação espiritual é pequena demais."
Ed René Kivitz

               Recentemente passei a entender melhor a afirmação de Jesus: “Nem todo o que me diz Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade do meu Pai que está nos céus”. A Bíblia em nenhum momento diz que o céu é destino exclusivo dos evangélicos. Até porque a Reforma Protestante só aconteceu no Século XVI. Isso significa que só a partir desta época começou a se pensar no termo "evangélico" para se distinguir do termo "católico romano". Você acha mesmo que só a partir de então é que as pessoas começaram a ser salvas? Francamente...

              Sei que é difícil passar a enxergar as coisas com outros olhos. Afinal, no Brasil há uma tentativa de criar uma espécie de gueto evangélico, onde os crentes não se misturam com os chamados "ímpios". Querem acabar com a cultura brasileira. Querem impor aos membros das igrejas que só ouçam música gospel. Querem viver em um eterno louvorzão e marchando para Jesus o ano inteiro. O tempo todo quebrando maldições, conquistando território e ressuscitando práticas mortas do Antigo Testamento. Querem criar uma espécie de idioma "evangeliquês": "Oh abençoado!"; "Oh amado!"; "Eu recebo!"; "Eu profetizo"; "Eu declaro!". Não foi por acaso que Jesus disse: "Não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno" (Jo 17:15). Não podemos criar uma realidade alternativa, mesquinha, pobre de cultura e chamá-la de "vida cristã".



 "O projeto cristão visa preparar para a vida. Cristo não pretendeu anular os costumes dos povos não-judeus. Daí ele dizer que a fé de um centurião adorador de ídolos era singular; e entre seus criteriosos pares ninguém tinha uma espiritualidade digna de elogio como aquele soldado que cuidou do escravo. Levar a boa notícia não significa exportar uma cultura, criar um dialeto, forçar uma ética. Evangelizar é anunciar que todos podem continuar a costurar, compor, escrever, brincar, encenar, praticar a justiça e criar meios de solidariedade; Deus não é rival da liberdade humana, mas seu maior incentivador."
Ricardo Gondim



            Não existe uma vida cristã e uma vida não-cristã. Existe a vida. E uma maneira cristã de viver a vida. Mas ela é pura e simplesmente a vida. Só isso. Se nós tivéssemos o hábito de ler um pouco mais, saberíamos que essas práticas que hoje associamos à igreja, nada têm a ver com ela. Nada de super-campanhas. Nada de rosas ungidas. Nada de toalhinha suada pelo apóstolo. Estas coisas vieram através de um segmento novo da igreja chamado neopentecostalismo. É lógico que os irmãos neopentecostais são uma bênção em muitas outras coisas. Muitas coisas mesmo. O que menciono aqui é uma questão de ponto de vista. Mas nada disso acontecia na igreja primitiva e tampouco no início do Movimento Protestante. O centro da questão na Bíblia não é a busca por milagres e, sim, O Reino de Deus e o discipulado de Jesus. Os milagres serviam para confirmar que Jesus é o Messias e que os apóstolos eram legítimos.

           O problema é que "Deus fala" com algumas pessoas todo dia. É no mínimo esquisito essa constância toda. Na Bíblia, Deus demora anos para voltar a falar com muitos personagens. Já disse alguém que se você fala com Deus todo dia você é um bom cristão. Mas se Deus fala todo dia com você, você é um lunático... Por isso, Deus nos livre de um Brasil evangélico. Pois viveríamos numa espécie de ditadura religiosa. Você quer um Talibã no nosso país? Então nem queira ver o que seriam capaz de fazer os "apóstolos" desse nova face da igreja. Preferiria ver um Brasil governado por um sujeito que tem compromisso com Deus, mas não, necessariamente, um "evangélico de carteirinha".

          Sei que alguns podem pensar que eu sou um cristão moderninho demais. Pelo contrário. Moderninhos são os que inseriram na comunhão dos discípulos de Jesus uma série de costumes estranhos ao Novo Testamento, que deveria ser o guia para as igrejas, ressalvadas as questões culturais da época.

          Quando tomamos consciência de que "obedecer cegamente a liderança"; ouvir somente música gospel, que alguns dizem ser todas "inspiradas por Deus"; ter que usar um padrão de fala, roupa e costumes, dentre outros ensinos, são coisas que pertecem à realidade evangélica atual, mas não, necessariamente, à forma cristã de viver, nossos olhos se abrem e temos a sensação de libertação. Deus nos liberta da religiosidade e nos apresenta a espiritualidade sadia ensinada por Jesus. Essa sim, é difícil de ser vivida, mas é gostosa como nenhuma outra é.

          Ser discípulo dói. Faz os outros te acharem estranho. Mas é bom demais. Dá uma grande paz saber que, sendo cristãos maduros, podemos nos misturar com outros, mas não vamos perder a identidade de filhos de Deus. Vamos ao cinema, à universidade, ao teatro, lemos poesia, ouvimos MPB, jogamos futebol, curtimos uma pizza com os amigos. Mas nada disso vai nos possuir. Que assim seja. Pois precisamos estar misturados com as pessoas para influenciá-las, como o sal se mistura aos alimentos para que possa lhes realçar o sabor.

Um abraço!