A palavra aramaica "Abba" - que significa papai - expressa muito bem quem é o verdadeiro Deus dos cristãos: Aquele que quer se relacionar conosco como o nosso Papai, o Deus que é amor incondicional...





domingo, 31 de julho de 2011

Desejos


 O hedonismo é uma corrente filosófica que entende que a felicidade somente pode ser alcançada através da busca pelo prazer e pela diminuição da dor. Segundo essa doutrina, o prazer chega a ser visto como o próprio sentido da vida, sendo um bem em si mesmo. A escola hedonista cirenaica preceitua que quanto mais intenso for e quanto mais tempo durar o prazer, melhor viverá o homem. 

 A sociedade chamada pós-moderna é demasiadamente influenciada pelo hedonismo. Em nossos dias, ser feliz significa basicamente ter coisas suficientes para nossa satisfação. O consumo desenfreado, marco do capitalismo, é um retrato do mundo atual, o que faz com que cresça, sem parar, o abismo que separa aqueles que podem possuir as maravilhas da tecnologia daqueles que vivem à margem de tudo isso.
 A própria filosofia, através de muitos de seus mais famosos representantes, reconhece que se todos os seres humanos buscassem, o tempo todo, a satisfação de suas próprias vontades, acima de qualquer coisa, o mundo seria um caos maior do que já é. O pouco de ordem que conseguimos manter para que a Terra continue a ser um lugar habitável provém da capacidade que tem o homem de refrear seus instintos diante dos outros.
 O que a sabedoria cristã quer nos ensinar é que se você tiver uma experiência profunda com o divino, depois de algum tempo você vai perceber que todo o resto não vai fazer tanta diferença assim. Se formos ricos ou pobres, não vai fazer tanta diferença assim. Se minha saúde vai ser plena ou se vou estar doente, não vai fazer tanta diferença assim. Se eu estou bem empregado ou mal empregado, não vai fazer tanta diferença assim. Se eu vou poder ter filhos ou não, não vai fazer tanta diferença assim. Pois “ser cheio de toda a plenitude de Deus” significa não precisar de mais nada. É chegar a um estágio da existência em que nada mais importa muito.
 O conselho do apóstolo Paulo que, inclusive, conhecia muito bem a filosofia greco-romana, é: “Revistam-se do Senhor Jesus Cristo, e não fiquem premeditando como satisfazer os desejos da carne” (Rm 13:14). Porque não é a satisfação dos nossos desejos que vai trazer a felicidade plena. O vazio do coração humano é eterno e só pode ser preenchido pelo Eterno. Por isso, sem comunhão intensa com Deus, sempre vai parecer que falta alguma coisa e a infelicidade será crônica.
O grande segredo para a satisfação e a felicidade plena é servir ao próximo. É isso que Jesus explica ao longo de todo o seu ministério terreno e nós, até hoje, não entendemos muito bem. Aproxime-se do outro e você terá mais chances de experimentar o amor de Deus. Busque a comunhão com o Pai e você terá superado o vício do desespero.
14/06/10. Denilson Basílio Costa

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Amizade, internet e fones-de-ouvido


               A vida no século XXI tem suas facilidades. Quem conseguiria viver sem internet atualmente? Nos acostumamos a viver conectados o tempo todo. Ainda me lembro de quando minha avó dizia que o fone-de-ouvido era o símbolo do egoísmo. Para ela, o nome do fone era "egoísta". Meu avô, então, ficou assustadíssimo com o advento do celular. Dizia ele que as pessoas estavam surtando por causa do pequeno aparelho, pois andavam pelas ruas gritando e gesticulando sem ninguém ao lado delas.

             Ah! Se meus avós soubessem como as pessoas transmitem informações em tempo real no Orkut, MSN, Twitter, Facebook... Acho que não entenderiam como nós conseguimos compartilhar nossas vidas com tamanha velocidade e sem a menor cerimônia.

           Apesar de tanta tecnologia, espero que nós tenhamos sabedoria para reinventar a cada dia as relações afetivas de qualidade. A comodidade da internet é tão grande que pode ocorrer a tentação do isolamento físico. Pois se eu posso estar em casa conectado a um mundo virtual de bate-papo com dezenas de pessoas ao mesmo tempo, por que deveria sair de casa para visitar um amigo? 
             
             O problema é que uma coisa não substitui a outra. As mensagens de texto, as gargalhadas virtuais do tipo: "kkkkk"; ou "hahuahau"; jamais serão gostosas como aquele abraço fraternal ou a cara avermelhada de quem ri de uma piada contada ao vivo e à cores. O mundo virtual pode ser uma bênção, sim. Na grande rede encontramos amigos que nunca mais veríamos se ela não existisse. O cuidado, porém, é necessário.

             Já reparou que até a fé está cada dia mais dinâmica? A questão é que a linha que separa dinamismo de egocentrismo é muito tênue. Assim como há inúmeros profissionais que já conseguem exercer seus ofícios em casa, hoje existe gente tentando praticar sua fé cristã no conforto de seus lares. Mas apesar de sabermos que o templo não é a "casa de Deus" (“o Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas”. At. 17:24) - faz-se necessário que estejamos sempre em comunhão com os outros. Afinal, como aprender a perdoar e a amar os que nos perseguem se nem temos contato com as pessoas?

      
            Não podemos viver isolados dos outros, reclamando de seus defeitos para justificar nossa tendência egoísta e depois achar que a não participação nos eventos da comunidade não atrapalha a fé. A espiritualidade tem sua face individual, isto é nítido. Mas retire do cristianismo os ajuntamentos para oração, louvor e comunhão e o que sobrará será uma espécie de filosofia ou misticismo, apenas. Por estas razões, mesmo tendo sofrido com atitudes alheias, com decepções com aqueles de quem se esperava um ombro amigo, com as desavenças dentro da própria igreja, prossigo me esforçando para não deixar de congregar com os irmãos. Falhas, também as tenho. E é lutando para superá-las que continuo o caminho rumo ao Reino.

            Sedento por experiências profundas com o sagrado, procuro a verdadeira essência da fé. Minha alma tem pressa. Chega de coisas mesquinhas. Chega de disputas intermináveis por cargos na igreja. Chega de achar que todo mundo tem que ser líder disso ou daquilo. Chega de comportamentos teatrais. Quero ver gente de verdade. Gente que erra e depois ri das besteiras que fez. Quero também sentir a brisa suave do toque do Espírito Santo. E o auge dessa vivência é poder compartilhar a beleza da vida com amigos, principalmente aqueles que são mais chegados que um irmão. Pois estes ficam muito bem guardados: do lado esquerdo do peito.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Uma fé sadia para um mundo melhor

           

           A despeito de todas as previsões para o fim dos tempos e para a volta de Cristo, precisamos nos importar com o tipo de vida que vivemos enquanto estivermos aqui. A fé sadia tem como uma de suas funções proporcionar ao fiel um equilíbrio acima da média. Espera-se que uma pessoa de fé seja alguém que busca desenvolver uma maior capacidade de amar e perdoar. Nesse sentido, entendo que a espiritualidade é, de certa forma, uma maneira de sermos pessoas mais maduras.

            Percebo que, pelo menos na minha vida, a fé já mostrou sua enorme eficácia. Não fosse eu um jovem com vivência espiritual, jamais teria passado por momentos tão complicados com alguma serenidade. A busca pelo sagrado é uma aventura das mais fascinantes. A compreensão que temos do divino acaba norteando toda a nossa vida. Ao contrário do que pensam alguns, a fé nem sempre é um refúgio para os infantis. É bem verdade que há aqueles que procuram encontrar em Deus aquele pai que nunca tiveram. Mas o Deus que eu conheço, para o qual me ajoelho e oro, não faz de seus filhos covardes nem alienados. Pelo contrário. Ele zela pela liberdade - afinal, seres sem livre arbítrio nunca seriam capazes de amar. Ele sofre conosco a cada experiência dolorosa, pois sabe que sem uma dose de dor não há crescimento.

         Existe uma fé inteligente. Que caminha no rumo do auto-conhecimento e da paz. Sem radicalismos. Sem fundamentalismos. Por isso eu fico mesmo é com o filósofo Soren Kierkegaard:                  

           "A fé é a maior aventura existencial. Para os fracos, ela constitui abrigo, segurança. Para os fortes, a fé é uma aposta, uma aventura arrojada, um mergulho no Desconhecido. A fé do fraco é acomodação às circunstâncias, sujeição ao que se julga imutável. A fé do forte é a certeza da superação de todas as circunstâncias, de algo maior do que as limitações do presente, a antecipação de um futuro aparentemente improvável."

             
           Que nós possamos um dia entender que nenhuma palavra fala mais alto que o exemplo e que este não é a melhor maneira de se influenciar a sociedade. É a única. Além disso, não se trata de um exemplo puramente moral. O homem de fé não precisa ter aquele estereótipo de "certinho" ou de cisudo, mal humorado. Ele deveria ser um cara de bem com a vida. Um "gente boa" por natureza. Ser seguidor de Jesus é difícil, sim. Mas também nos traz paz e alegria. Para que os outros possam querer fazer parte da família de Deus, é preciso que percebam que nós, que já fazemos parte dela, somos felizes por sermos cristãos. Por isso concordo com o também filósofo Friedrich Nietzsche: “Se mais remidos se parecessem os remidos, mais fácil me seria crer no redentor”. 


            Houve períodos na história em que os intelectuais apostaram na extinção da religião e da fé. Pensavam que, em um mundo automatizado, cheio de tecnologia, não haveria espaço para a crença em Deus, pois esta seria considerada ultrapassada, coisa de ignorantes. Estavam errados. A ciência descobriu que o ser humano possui uma área do cérebro reservada para a fé. Ou seja, a espiritualidade jamais será abolida da raça humana, pois é uma dimensão da própria existência. É uma necessidade do homem. Ainda que seja ateu, esse ateísmo é uma forma de exercer sua crença.


             Uma fé sadia atrai os incrédulos para perto de Deus...  Está provado pelas pesquisas que a melhor forma de evangelismo é a convivência com os crentes transformados. A maioria dos que se convertem, o fazem porque conviveram com alguém que deu um bom testemunho de vida. Sem fanatismo. Mas com raiz fincada naquilo que é bom. Naquilo que é agradável. Naquilo que é de bom gosto. Seja essa a nossa experiência do sagrado. Uma espiritualidade inteligente e madura.