A palavra aramaica "Abba" - que significa papai - expressa muito bem quem é o verdadeiro Deus dos cristãos: Aquele que quer se relacionar conosco como o nosso Papai, o Deus que é amor incondicional...





quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Bicho, coisa ou gente?



            Um dos grandes males do Século XXI é a coisificação das pessoas. Parece-me claro que Deus criou as pessoas para serem amadas e as coisas para serem usadas. Mas o grande fenômeno da nossa sociedade pós-moderna é justamente o oposto, usamos pessoas e amamos coisas. O amor exagerado às coisas e o uso indiscriminado das pessoas. Isso sim pode ser chamado de um grande pecado, pois deturpa a imagem e semelhança de Deus em nós! Quando alguém trata um ser humano como uma coisa, mesmo que não saiba, ofende a dignidade intrínseca que nos foi dada justamente por termos sido feitos à imagem e semelhança do Criador.

            A busca desesperada pela tríade mais famosa do mundo moderno - sexo, poder e dinheiro - conduz as pessoas à perdição. Gente atropelando gente. Gente tratando gente como bicho com um único objetivo: mais sexo, mais poder e mais dinheiro. Esse caminho é terrível,pois destrói não só aquele que vive nele, mas também seus familiares. Quantos lares já ruíram por causa dos desejos desenfreados e cegos de alguns!

            Quanto mais cativos dessas paixões sem limites nós somos, menos humanos nos tornamos. A gente acaba se tornando um ser bestial. Movido pelo instinto animal. A coisificação das pessoas anula a integridade que é própria daqueles que foram feitos com tanto cuidado por seu Criador. Jesus nunca exigiu de seus seguidores que eles fossem seres "desencarnados", que se abstivessem de viver suas vidas e as curtissem da melhor maneira possível. A questão é se nós temos feito isso de maneira sadia, segundo a perspectiva cristã.

            Os instintos animais estarão sempre presentes em nossas vidas. Até porque, no caso do sexo, por exemplo, trata-se de uma questão de sobrevivência da humanidade. Sem sexo a humanidade se extinguiria. O problema todo é como nós estamos lidando com a questão sexual. Se nós somos daqueles que nos deixamos levar pelos instintos naturais, precisamos repensar o assunto. Pois Cristo nos ensina a dominar nossos apetites e nossos desejos.

            Precisamos é deixar de viver como bichos. Somos humanos e podemos decidir o que fazer com nossos apetites. Somos a única espécie que tem a prerrogativa de não precisar seguir os próprios instintos. Precisamos transcender as nossas animalidades! Os desejos são sinais até de boa saúde. Portanto, não é razoável imaginarmos que um sujeito convertido deixará de ter desejos. É saudável ter seus desejos despertados.  Mas é nossa tarefa usar nossa dimensão humana para direcionar o alvo dos nossos desejos.

             Não é legítimo que se use pessoas como objetos de satisfação pessoal para depois se jogar fora o bagaço, os restos. Na tradição da espiritualidade cristã nós aprendemos que o sexo entre duas pessoas as faz ser uma só carne. É uma relação de amor e afeto. É uma construção transcendental e profunda de sentimentos. O que a Bíblia quer nos dizer é que o caminho de bestialização do ser humano é um caminho que nos leva a destruição, não só da nossa vida, mas de tantas outras vidas que se envolvem com a gente.

            Nosso apetite legítimo não é de sexo, pois nós não somos bichos. Nós não vivemos os ciclos do cio como os outros animais. Nosso apetite, no fundo, é por afeto! Somos seres que podemos refrear nossos impulsos. Aliás, é justamente a capacidade de domínio próprio que permite que a humanidade continue existindo com um mínimo de paz, pois se cada um seguisse seus próprios instintos e desejos, o caos reinaria na Terra e o ser humano estaria com seus dias contados.

          Houve um tempo em que o dinheiro era visto como algo demoníaco pelos cristãos. Porém, hoje cremos que ele pode ser uma bênção desde que não seja elevado à categoria de "deus". O dinheiro tratado como um deus é chamado por Jesus de "Mamon", pois se torna um ídolo. Esse sim é perigosíssimo, pois nosso instinto é passar por cima de tudo e todos para conseguir nosso próprio conforto. E junto com ganância pelo poder, faz grande estrago nas vidas de muitas famílias.

              É regra de ouro do Cristianismo negar a si mesmo, lutar contra nossas tendências egoístas. Que nós possamos refletir sobre isso a cada dia. Não somos bichos que precisam fazer tudo aquilo que sentem vontade de fazer. Para que haja vida em sociedade, é necessário que nós deixemos de fazer somente o que queremos para fazermos aquilo que precisamos fazer em prol do outro, do próximo. Que assim seja!