A palavra aramaica "Abba" - que significa papai - expressa muito bem quem é o verdadeiro Deus dos cristãos: Aquele que quer se relacionar conosco como o nosso Papai, o Deus que é amor incondicional...





segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O dilema de Jó e o sofrimento do inocente

         


          O livro de Jó é um clássico sobre o sofrimento humano. Há quem diga que Jó foi uma personagem fictícia. Porém, sua história é citada no Novo Testamento, de forma clara, por Tiago. Vemos que Jó era homem justo ("Na terra de Uz vivia um homem chamado Jó. Era homem íntegro e justo; temia a Deus e evitava o mal."[Jó 1:1]).  O próprio Deus reconheceu a integridade de Jó: "Disse então o Senhor a Satanás: 'Reparou meu servo Jó? Não há ninguém na terra como ele, irrepreensível, íntegro, homem que teme a Deus e evita o mal'" (Jó 1:8).
         

          Interessante que os amigos de Jó, ao vê-lo em meio ao sofrimento, resolveram consolá-lo. Enquanto se limitaram a chorar com ele, tudo estava bem. A atitude foi louvável! O problema foi o que veio depois. Como a teologia da época pregava a justiça retributiva, os amigos de Jó não viram outra explicação para seu sofrimento, senão os seus próprios pecados!


          Pior do que a tragédia é a tentatva de explicá-la! É bem verdade que há problemas na vida que são consequências de nossas atitudes. São apenas a colheita do que plantamos. Mas não podemos nos esquecer do imponderável, dos males aleatórios que acometem a alguns, independentemente de cultura, gênero, classe social, etnia e religião. Não sabemos explicar o porquê, nem sabemos por que acontecem com uns e, não, com outros.


          Não bastasse a dor de ter de sepultar seus filhos e de ter perdido seus bens materiais, Jó ainda teve de sofrer mais um toque de Satanás, pois quando este percebeu a sua persistência, sugeriu a Deus que a blasfêmia acorreria se sua saúde fosse abalada: " 'Pele por pele!' , respondeu Satanás. 'Um homem dará tudo o que tem por sua vida. Estende a tua mão e fere a sua carne e os seus ossos, e com certeza ele te amaldiçoará na tua face.' " (Jó 2:4-5)


          Após as infelizes tentativas de explicação dos amigos de Jó, ele insiste em dizer que não é o culpado pelos seus próprios males. E, logo depois, deseja encontrar-se com Deus para obter respostas para a sua tragédia. Jó pedia a Deus que lhe pesasse em balança justa, pois sabia que estava livre de culpa. É preciso que um homem seja mesmo muito íntegro para ter coragem de fazer esse pedido a Deus! Eu é que não quero ser pesado em balança "justa". Minha consciência não é tão limpa assim... Quero ser pesado em balança de misericórdia! Com o peso pendente pro meu lado, é claro!


          Impressionante é que Deus responde a Jó do meio da tempestade: "Então o Senhor respondeu a Jó do meio da tempestade. Disse ele: 'Quem é esse que obscurece o meu conselho com palavras sem conhecimento? Prepare-se como simples homem; vou fazer-lhe perguntas, e você me responderá. Onde você estava quando lancei os alicerces da terra? Responda-me, se é que você sabe tanto.' " (Jó 38:1-4) 


         Deus faz dezenas de perguntas a Jó e ele não consegue responder a nenhuma delas! Ele mostra a Jó que o conhecimento humano é limitado demais para compreender as razões de tudo o que acontece na vida. E o mais belo de tudo é que a sorte de Jó foi restaurada quando ele orou pedindo o perdão para seus amigos por eles terem falado o que não deviam a respeito de Deus. Jó orou por eles seguindo orientação do próprio Criador.


         No dia mau, no meio do caos, na hora da tragédia, o que precisamos não é de respostas sobre a causa de tamanha dor. Nós precisamos mesmo é de pessoas ao nosso lado. Deus incentivou a comunhão de Jó com os amigos que inicialmente tinham ido consolá-lo, mas acabaram acusando-no, mandando que Jó orasse por eles. Quando algum amigo vier trazer respostas para a causa do seu sofrimento, veja se ele pode responder as perguntas que Deus fez a Jó! Se não puder, a companhia dele é o melhor que se pode ter.

Quando três amigos de Jó: Elifaz, Bildade e Zofar souberam de todos os males que o haviam atingido, saíram, cada um da sua região, e combinaram encontrar-se para mostrar solidariedade a Jó e consolá-lo. Quando o viram à distância, mal puderam reconhecê-lo e começaram a chorar em alta voz. Cada um deles rasgou o manto e colocou terra sobre a cabeça. Depois se assentaram no chão com ele, durante sete dias e sete noites. Ninguém lhe disse uma palavra, pois viam como era grande o seu sofrimento. (Jó 2:11-13)

          Melhor mesmo é que, quando percebermos alguém em meio a muitas dores, nos limitemos a estar presente, e chorar com esse alguém, como fizeram inicialmente os amigos de Jó. A demonstração de solidariedade é o máximo que podemos oferecer e receber em meio ao sofrimento.

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